06/09/2021

MANIFESTO - XX CARURU DE IBEJI E AS PEDAGOGINGAS




 Há 521 anos os povos originários, africanos e seus descendentes são vitimados nesse território em prol do empreendimento colonial de construção da nação brasileira. Controlando terra, água, comunicação e todos os recursos proveniente delas, a supremacia branca vem atualizando suas formas de dominação ao longo da história, nos trazendo ao atual cenário guerra em que nos encontramos. Nesse contexto, assim como no período colonial, o aquilombamento se apresenta como uma estratégia fundamental de sobrevivência das nossas comunidades racialmente apartadas. 

Estamos falando de um contexto de guerra híbrida, de guerra racial de alta intensidade,  de avanço do neoliberalismo e aprofundamento das desigualdades, somado aos agravos da crise sanitária causada pela ingerência da pandemia de Covid-19 e seus números desastrosos. Vivemos atualmente no Brasil um cenário de insegurança alimentar, alto índice de desemprego e informalidade, alta inflação no preço de itens básicos, crise hídrica e elétrica, agronegócio, além do acirramento da perseguição contra comunidades e povos tradicionais, às custas da implementação de um modo de vida que visa explorar de forma predatória os recursos naturais e nos manter como escravos. 


Do nosso lado da história, nós povo preto, descendentes da diáspora afrikana forçada para o Brasil, desde o princípio resistimos e criamos estratégias de sobrevivência e permanência do nosso modo de vida nesse território, não aceitamos passivamente a condição de dominados apesar de reconhecer que nessa guerra, estamos na posição de vítima. Entre tantas formas de insurreições, os quilombos são a nossa maior expressão de auto organização comunitária de uso coletivo da terra, como um projeto comum de manutenção da vida com condução própria, dentro de valores próprios, como elaborou a quilombola e intelectual Beatriz Nascimento, o quilombo é uma ‘‘possibilidade nos dias da destruição’’;


É essa experiência histórica que nos trouxe até aqui e que nos propomos a ser continuidade, e é movido por esse espírito de construção coletiva de um modo de vida que realmente contemple a nossa existência que convocamos toda a nossa comunidade para mais uma vez nos aquilombarmos em torno do XX Caruru de Ibeji e as Pedagogingas para discutirmos o tema ‘‘Terra, água e comunicação - Quilombo D’Oiti: uma possibilidade nos dias da destruição’’, de 13 a 17 de outubro de 2021 em formato híbrido (online e presencial). 


Nosso povo se encontra encurralado nas periferias urbanas, sem terra para viver e produzir seu sustento, sob forte repressão policial e socialmente segregados, sem acesso a educação, saúde, lazer, vistos como inimigos internos e tratados como massa de manobra política. A convocação é para construção de um projeto político autônomo de sobrevivência centrado na ocupação e uso coletivo da terra para o desenvolvimento comunitário preto. 


Em Itacaré/BA, às margens do Rio de Contas, no território ancestral que remonta o Quilombo do Oitizeiro, o 3º maior quilombo da história do Brasil, está localizada a Fazenda Modelo Quilombo D’Oiti de onde parte o projeto comunitário, preto e autônomo de afro desenvolvimento conduzido pela Casa do Boneco de Itacaré na última década, fruto do processo de luta racial construído pela organização há mais de 30 anos. A Fazenda Quilombo D’Oiti vem se constituindo como espaço permanente de vivências e formações voltadas para a manutenção de saberes tradicionais afrodescendentes, sustentabilidade,  formação política, empreendedorismo e geração de renda através do impulsionamento de um programa de Turismo Étnico de Base Comunitária referenciado nacionalmente e que tem impactado na formação de gerações de jovens. 


Com esse acúmulo histórico e prático somado à experiência de outros núcleos articulados na caminhada, temos alternativas concretas de uso coletivo da terra, soberania alimentar, soberania energética, educação, saúde, onde o Quilombo é a sintetização territorial que só é possível de se concretizar a partir de organização dentro de um programa político autêntico, preto, autônomo construído sob o trabalho comunitário. É tempo de aquilombar-se, essa é a convocação. Aqueles que se encontram desgarrados e sem perspectivas, é tempo de juntar-se com propósito de construção e sobrevivência. Ou nos organizamos agora ou nossos dias estão contados.


Espaços de aquilombamento como a Casa do Boneco - Quilombo D’Oiti devem ser compreendidos como legado de luta política afrodiaspórica que serve ao fortalecimento do povo negro e que por ele deve prioritariamente deve ser fortalecido. Não há perspectiva de vida para nós sob domínio da supremacia branka. Em tempos distópicos como o que estamos vivendo, a nossa sobrevivência enquanto povo passa prioritariamente pela garantia dos territórios, da terra, da água e da comunicação, onde através da condução ancestral nos firmamos em defesa da pauta primordial que é nos manter vivos e criar as estruturas para aqueles que virão.


inscrições: https://forms.gle/rCU43vGKENrnJdMB7

Vakinha: http://vaka.me/2359607









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