24/12/2014

‘‘NATAL DE PRETO É EM NOVEMBRO... E É ASSIM!’’



  É o que propõe a campanha realizada pelo Coletivo A Coisa Tá Ficando Preta em parceria com a Casa do Boneco de Itacaré, que questiona o poder simbólico capitalista incutido no Natal, quando os interesses meramente econômicos se sobrepõem às reais necessidades da população, principalmente os grupos marginalizados.

 O Coletivo atua há mais de um ano no Sul da Bahia promovendo discussão e disseminação de assuntos como religiosidade, estética, relações de gênero e afirmação identitária, utilizando as linguagens publicitária e audiovisual com uma perspectiva didático-pedagógica para abordar as questões relacionadas à identidade negra e afro-brasileira.

No dia 24 de novembro, semana da consciência negra, foi lançada a campanha ‘‘Natal de preto é em novembro e é assim...’’ trazendo a figura do Mestre Jorge Rasta para tratar de princípios e valores da ancestralidade africana como a oralidade, pertencimento e resistência, além da relação de respeito entre os mais velhos e os mais novos, com a forte presença afrocentrada do bebê Orunmilá. Como um dos objetivos centrais do Coletivo, a campanha também desconstrói a imagem do Papai Noel convencional, o velhinho branco, de barba branca que dá presentes para as crianças que se ‘‘comportam’’.

  Por que tem que ser branco? Por que usar essa roupa? Por que esses valores que nada dialogam com nossa realidade? E as nossas tradições negras, onde ficam? Por esses e outros questionamentos a figura central da campanha é um griô, homem preto de longos cabelos dreads, usando sabadouro branco, batas africanas, tocando tambor e compartilhando dos ensinamentos. Muito diferente do que estamos acostumados a presenciar nas campanhas natalinas, onde a imagem de pessoas negras é raramente apresentada, e quando posta é seguindo um padrão eurocêntrico de beleza e comportamento.


Para nós dos movimentos negros e sociais, dizer que Natal de preto é em novembro significa rememorar e manter viva a imagem de líderes como Zumbi, que lutaram pela libertação do povo negro no Brasil e encorajar os atuais guerreiros e guerreiras através desses referenciais.

  A segunda parte da campanha é lançada na semana em que se comemora o Natal oficial segundo algumas religiões cristãs, período também em que se intensifica a corrida comercial capitalista em busca de grande número de vendas, ressignificando os valores natalinos com único objetivo: o lucro. Assim, a discussão segue na mesma linha de abordagem, dando continuidade à campanha.

  Para saber mais sobre o Coletivo e conhecer também outras campanhas realizadas em 2014 é só acessar a fan page aqui.




''Podem rir mas serei sincero e coeso
Conheci papai noel e fiquei surpreso
Barbona branca, cabelo crespo, pele escura
Ouvindo dingou béu estilo rap, que loucura
Era ele mesmo, gordinho e sorridente
Rodeado de erês e distribuindo presente
O velhinho era real falou do tempo de moleque
Adorava roupa vermelha e curtia baile black
Ao saber que eu cantava na banda simples rap'ortagem
Começou a me falar um monte de viagem:

-se disser que trenó é uma farsa, te incomoda?
Como percebe passo a vida numa cadeira de rodas
Porque tu acha que não atendo todas as crianças?
Mas saiba que sou casado e uso aliança
Eu mesmo não tem filho adivinha porque?
Advinha porque sou militante do glbtt?
Na verdade, eu que fui adotado pela criançada
Mas diferente do que pensam minha condição é limitada
Com preconceito e outros tantos desafios a superar
Eu tô de saco cheio de armas pra lutar

Pra finalizar ele disse que não faz sinal da cruz
E me deu de presente o filme "olhos azuis"
   Perguntei porque sua real identidade não se discute
                                                              Me respondeu: - o que sou não é vitrine pra orkut

                                                        Dingou béu, dingou béu
                                                       Sou black noel
                                                      Que legal, que legal
                                                        Noel black paw''

Música: Papai Noel da diversidade (2008)
Artista: Simples Rap'ortagem

21/12/2014

Carta final da III Jornada de Agroecologia da Bahia propõe novas articulações de luta




 
Terminou no domingo, 7 de dezembro, a III Jornada de Agroecologia da Bahia. Desde o dia 4, estiveram reunidas cerca de 1200 pessoas no Assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), para debater “Sementes, ciência e tecnologia agroecológica para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade”.


Assim como as edições anteriores, a III Jornada foi uma construção da Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica e seus diversos elos, os quais integram quilombolas, indígenas, assentad@s, estudantes, movimentos sociais, mestres e mestras de distintas tradições.




A programação contou com oficinas e mini-cursos articulados por diversos movimentos sociais, coletivos e instituições de educação. Cada dia foi marcado por uma mesa interativa, debatendo a Agroecologia e sua relação com as sementes, a ciência, a transformação da sociedade, a educação, governança e a luta de classes.






 Além dos espaços de formação política, a Jornada também contou com momentos vivenciais e culturais, como a Ciranda Infantil, místicas, shows e atividades espontâneas e auto-organizadas pel@s participantes, como os torés indígenas, o encontro de mulheres e a roda de capoeira.





Plantando o Baobá

Após três dias intensos de debates, a Teia Agroecológica produziu coletivamente a Carta da III Jornada de Agroecologia da Bahia, aprovada na plenária final de domingo. Entre os diversos temas abordados, a Carta afirma a necessidade de unificação da agenda de lutas, a descriminalização dos movimentos sociais, modelos comunitários de produção agroecológica, o enfrentamento da opressão de gênero e a autonomia política frente aos poderes constituídos.






Algumas reflexões da Jornada, assim como a Carta Final, estão no blog:www.jornadadeagroecologiadabahia.blogspot.com.

O registro fotográfico realizado pela Brigada Audiovisual dos Povos está disponível no link: https://www.flickr.com/photos/122585244@N05/sets/72157649311784327/page3/


Contato: jornadadeagroecologiadabahia@gmail.com

17/11/2014

Sobre "Machismo", "Universidade" e "Sermos todxs Nátali"!



"Gênero não é binário. É uma hierarquia.
É global em seu alcance, é sádico em sua prática e
é assassino em sua realização. (...)” Lierre Keith

Nesse Novembro Negro, gritamos Aqualtune para pautar: as mulheres não serão tolerantes ao posto de objetos numa prateleira enfeitada, muito menos como loucas, quando pomos o dedo na cara de quem quer que seja para escancarar o machismo!

No Sul da Bahia, movimentos e diversas pessoas, especialmente mulheres, se posicionam em favor da denúncia da estudante de Comunicação Social da UESC Nátali Mendes, constrangida publicamente pelo professor da mesma instituição André Rosa, que usou de uma infeliz postura de elogio, um segurar de braço seguido da oferta de seu cartão para ter aquela estudante no rol de inúmeras mulheres que tem se pronunciado desde então vítimas de constrangimentos ainda maiores nas abordagens daquele professor. Já ouvi uma amiga me questionar: mas qual mal ele fez afinal? Não me canso de explicar: o uso abusivo do poder de professor para com uma aluna, dentro de uma instituição onde ele exerce autoridade sobre a estudante, ele usou de sua autoridade através do cartão, do direito que se outorgou de pegar em seu braço pra promover um elogio! Seu pedido de desculpas foi tão infeliz quanto o seu ato de assédio. Trouxe o turbante como o motivo do fato. Mas professor, logo o senhor que trilha tanto pela pauta das questões afirmativas? Folclorizou e fantasiou a coroa da mulher negra? É desentendimento ou o senhor está montando uma grife de turbantes?

Infeliz, mexeu com uma mulher negra empoderada, altiva, do asè e que tem voz. Mas essa mulher não está falando apenas por ela. São diversas as situações de mulheres que já passaram por constrangimentos com esse professor dentro e fora da universidade e que silenciadas, talvez até acreditassem que o problema era o seu corpo, ou simplesmente desacreditaram da sua capacidade de reagir.

Depois do episódio no auditório, Larissa Pereira, que presenciou todo ocorrido afirma: “Desde então tenho ouvido reiteradas denúncias individuais de atuais ou ex estudantes da UESC: :"Ele quis pegar na minha bunda", "Ele disse que queria me comer", "Ele pegou em mim e disse que eu era gostosa" "Minha mulher preferida é a que tem buceta". Para os olhos desavisados ou coniventes estas falas podem ser elogios. Para mim, mulher negra e feminista, essas falas são formas de naturalizar a histórica coerção machista sobre o meu corpo. As mulheres que denunciam são, em sua maioria, do círculo social do referido professor. Mulheres militantes da causa educacional e/ou racial. Mulheres que cansaram de ver um homem se arvorando do poder fálico para conseguir privilégios. Continuo enojada. Continuo engajada. Vamos à luta, homens e mulheres comprometidos com uma sociedade justa.



A denúncia tem sido usada política e sensatamente pra pautar a universidade, que com certeza traz outros inúmeros casos similares (não precisa de pesquisa científica para provar tal afirmação, do meu lugar de fala, basta ser mulher) e isso no mínimo vai qualificar o debate no importante ambiente cultural que é a universidade.

Assédio por parte de professores homens na universidade é assunto recorrente que corre à boca pequena. Já vi mulheres sendo desqualificadas em bancas de TCC, reprovadas em disciplinas por conta de não ter cedido à "cantadas". Espero que a Universidade (Reitoria, professores, estudantes, funcionários), a UESC nesse caso, se posicione, ou vamos continuar colocando curativos nos ferimentos umas das outras, enquanto cultivamos em silêncio a dor de carregar corpos violados.” Hundira Cunha

Claro que isso também tem causado diversas reações conservadoras e machistas que invertem a lógica da situação e trazem a estudante Nátali para o centro do problema. Ela seria então a desequilibrada, a exagerada, irresponsável, que quer se aparecer, a quadrada que não entende uma cantada ou a insensível que quer acabar com a carreira do “coitado” do professor. É esse o jogo perverso que a dominação masculina promove e reproduz cotidianamente. Aí boa parte dessa sociedade se coloca contra as Nátalis, Marias, Danielas, Verônicas, Brisas, Larissas. Ou não é evidente que esse não é um caso isolado? Por que parece que essa parte da sociedade só daria razão se fosse o crime de estupro, mas se fosse um estupro em quem tivesse bem vestida, não provocasse a libido alheia e de preferencia, fosse religiosa... Confere, produção?

A essa sociedade, que muitos respeitam enquanto um nicho ideológico reacionário e conservador, nos levantaremos todos os dias, sob o raio e o vermelho de Iansã pra dizer: Basta! O machismo não passará!

A feminista negra Audre Lorde nos alerta que “temos sido educadas numa sociedade doente e anormal, e nós devemos estar num processo de retomar a nossa vida, mas não nos termos dessa sociedade. (...) O sujeito e o assunto da revolução somos nós mesmas, é a nossa vida". Dessa forma, eu queria dizer ao professor André Rosa e toda a parte da sociedade que o apoia, especialmente aos homens que exercem seu poder fálico para impor sua dominação física, simbólica, emocional e até mesmo profissional, que nós, mulheres negras, estamos praticando a irmandade como principio básico do feminismo. Seremos combativas igualmente contra o racismo e contra o machismo! Nenhuma passo atrás, Nenhum silêncio reinará!

Quem eu sou?
(escolha um ou mais nomes abaixo)

Eu assino como Maria, Nátali, Ronara, Nana, Dania, Say Adinkra, Hundira, Larissa, Cláudia, Quenia, Fernanda, Daniela Galdino, Preta Ashanti, Brisa, Karen, Joana, Carla, Grasieli, Michele, Jorge Rasta, Hugo Xoroquê, Negus Jorge, Gominho Neves, Tiago Dendê, Yure Mendes...

Sul da Bahia
Noite de 15 de novembro, sob chuva, raio e trovão
Eparre Oyá!



20/10/2014

Oficinas de Customização e Jóias de Asé: processos coletivos de geração de renda!


Nas últimas quinta e sexta (16 e 17) de outubro, realizou-se na Escola Agrícola Margarida Alves (Ilhéus-BA) a Oficina de Customização, técnica de arte manual que está sempre transformando o velho em novo, ministrada por Preta Ashanti e Bianca Maria.  Nessa oficina aprende-se diferentes tipos de pontos com agulha e linha de crochê, aplique de tecidos e miçangas, dando possibilidade de criar e reinventar tanto roupas como também painéis, usando pintura e desenho.

A atividade contempla um projeto de apoio ao protagonismo das mulheres através da mobilização e formação para o acesso a políticas públicas. Também prevê a implantação de ações de desenvolvimento da autonomia econômica através de processos coletivos de geração de renda.


Já no sábado (18), foi realizada no Terreiro Matamba Tombenci Neto (Ilhéus-BA) a Oficina Joias de Asé, fazendo parte das atividades do Projeto ‘‘Mãe Ilza Mukalê: Música, Identidade e Memória’’. Jóias de Asé é uma linha de produção de adereços e adornos para o corpo, usando miçangas e sementes com representação dos orixás, exibindo nas joias (colares, pulseiras...) histórias e contos de um Deus.

FOTO: Flávio Rebouças
FOTO: Flávio Rebouças

FOTO: Flávio Rebouças









16/10/2014

XIII CARURU DE IBEJI E AS PEDAGOGINGAS: Tambor e Ancestralidade!

II TRECHO DO PROJETO TRÊS PEDRINHAS

Por tudo que nasce, saudamos nossos erês!



Sentimento de renovação das forças, reoxigenação e fortalecimento, a cada caruru que é servido, uma página a mais é escrita e acrescentada na história de um povo, e de uma instituição. A história do Caruru de Ibeji e da Casa do Boneco se confundem e se pertencem por serem parte de uma trajetória de muitas lutas, adversidades, surpresas e vitórias. Precisamos agradecer, e fazemos isso como a ancestralidade africana nos educou: com tambor, com dança, com brincadeira, com fartura e com muito trabalho.

A transmissão de saberes ancestrais milenares, resguardados na vivência das nossas mestras e mestres não cabem nas estruturas eurocêntricas que regem o sistema educacional convencional. Para romper com uma educação que não conta a verdadeira história do povo preto, com uma mídia coronelista que descaracteriza a nossa identidade, com o racismo impregnado que mata os nossos jovens diariamente, as pedagogingas se fazem instrumento de educação e formação política dos futuros (e atuais) Zumbis e Dandaras.

A Casa do Boneco existe e trabalha à 27 anos com o empoderamento da infância e da juventude negra itacareense, urbana, rural, quilombola, utilizando para isso as mais diversas linguagens e aprendizados sempre voltados para a ancestralidade africana, afro-brasileira e indígena. 

O Caruru de Ibeji, já na sua 13ª edição, surgiu em agradecimento pela vida de Lori Mafoany que em meio à adversidades de uma gravidez inesperada, nasce de 6 meses e meio e mesmo desenganada pelos médicos resiste com sua saúde e inteligência invejáveis. Tornando-se tradição na cidade, o Caruru de Ibeji a três anos une-se à proposta das Pedagogingas, práticas educativas realizadas através de oficinas, rodas de conversa e tambor, apresentações culturais, celebração religiosa e união dos povos em um encontro que também contempla o II trecho do Projeto Três Pedrinhas.

A abertura oficial do evento foi no dia 24 de setembro de 2014, mas esse processo real de resistência já começou à séculos, quando o nosso primeiro irmão foi capturado em África por uma colonização autorizada pela Igreja Católica e por uma ‘‘supremacia’’ racista branca. Para fazer a abertura do nosso evento não vestimos a roupa da moda, não cantamos a música das paradas de sucesso das rádios comerciais, não falamos de conformismo e nem de pacifismo. Nos enfeitamos com tecidos africanos, batas e turbantes para tocar e cantar o Xirê, saudando as forças da natureza, os Orixás, pedindo licença e permissão aos que nos guiam. Apresentamos @s noss@s oficineir@s, mestres, grupos e coletivos que vieram compartilhar dos seus saberes.






Para aprender e ter contato com a musicalidade de evocação e saudação dos orixás, o Alabê Dito, guardião do saber ancestral da religião do candomblé, enriquece a nossa programação com a oficina de Toques e Cantos de Xirê. Construir o próprio instrumento musical de forma agroecológica e afrocentrada também foi ensinado-aprendido-ensinado na oficina de Confecção de Tambores Afrobrasileiros, facilitada pela representação de Tambores Oraniã (Casa do Boneco), Alma Percussão, Coletivo Casa Preta (Pará) e Casa de Cultura Tainã (São Paulo).

Os tradicionais bonecos não poderiam ficar de fora do nosso encontro, não só por ser uma poderosa ferramenta pedagógica, mas também por ser símbolo significativo e fundador da Casa do Boneco. Tivemos oficina de Confecção de Bonecos com Cabaça, com o nosso grande Mestre Elias e Adriana Reis, onde foi ensinado a produção e manipulação de bonecos, com improvisação de teatro. Também contamos com a oficina de Confecção de Bonecos Gigantes oferecida pela Cia de Teatro de Bonecos Mãos na representação de Cláudio Cruz e Fátima Araújo, e o grupo de jovens que compõem a cia. Foram construídos dois lindos bonecos gigantes que abrilhantaram o cortejo afro e hoje compõem o elenco de bonecos do Ylê D’erê.


Nossos pequenos reis e rainhas se divertiram muito aprendendo sobre suas histórias e entendendo o que é essa tal de identidade em atividades como a Oficina Criativa Ka Naombo, confeccionando os próprios marca-textos iguaizinhos a cada um depois da dinâmica do espelho, facilitada por Adriana Ka Naombo. Também tivemos muitas histórias com a Oficina de Literatura Infantil facilitada por Larissa Pereira; Oficina Cantiga de Erê com Mariana Bittencourt; e a oficina Menina Bonita do Laço, do Torço e do Turbante (Leiturança), facilitada por Carol Cruz e Carla Antelante, nos coroando com lindos turbantes.















Contamos com a belíssima participação do Grupo ELO que ofereceu a Oficina de Hip Hop mediada por Tayrini e Nessita Lopes, mostrando a representação feminina no movimento hip hop de Vitória da Conquista. A Arte do Graffiti também foi muito bem representada pela oficina ministrada por Baga e Bigode (Salvador). Fabrício Silva, graduando em odontologia, nos ofertou uma palestra sobre Espiritualidade e Bioética na Saúde e também uma Oficina de Beat Box. Música e iniciação de técnicas vocais foram aprendidas com a oficina Conta Para Todo Canto, ministrada por Mariana Bittencourt.



As tecnologias, suas ferramentas e linguagens também marcaram presença, tendo representação da Oficina de Edição de Áudio, com Sérgio Melo dando continuidade à formação dos monitores das rádios implantadas pelo Projeto Três Pedrinhas; Oficina Cinema In MOV ministrada por Camila Mota, além de intervenção audiovisual do CineCACoS e transmissão ao vivo da Rádio Indaca Obá FM, que completa um ano!




Para transmitir o melhor às nossas crianças, nos fortalecemos nos saberes dos mais velhos, dos guardiões da ancestralidade, dos guerreiros e guerreiras que há tanto tempo estão na luta por objetivos comuns aos povos originários: Mestre Elias Bonfim ( Grupo Mamulengos da Bahia - SSA ), Yalorixá Mariá Keci ( Terreiro Raizes de Airá - São Felix-BA ), Tata Paulo Sérgio, Ebomi Éder, Mestre TC Silva ( Casa de Cultura Tainã - Campinas-SP ), Mestre Joelson Oliveira ( Assentamento Terra Vista Aratac-BA ), Cacique Nailton ( Aldeia Baixa Alegre - Pau Brasil-BA ), Rosi Rio dos Macacos ( Salvador ), Mestre Jorge Rasta ( Casa do Boneco de Itacaré ), Griot Duza ( Santo Antonio de Jesus-BA ), Alabê Dito ( Terreiro Lobaneku Filha ). 




O nosso encontro agregou mais de 200 participantes, com grupos e representações de instituições e comunidades como: Assentamento Terra Vista, Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, Quilombo Rio dos Macacos, Rede Mocambos, Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, IF Uruçuca, Quilombo Lagoa Santa, e outros coletivos.





Para a culminância desses cinco dias repleto de atividades, aprendizados e troca de saberes, a celebração do Caruru de Ibeji aconteceu no domingo, dia 28 de setembro. Saindo da Praça São Miguel e rumando para a Casa do Boneco, desfilamos com um lindo Cortejo Afro. Ala de baianas, crianças, comunidades indígenas, militantes, educadores, também bonecos gigantes e pernas de pau, frutos da oficina de confecção de bonecos, tudo no lindo cortejo ritmado pelo toque dos tambores, pelas flores, perfume e banho pipoca. Na Casa, celebramos os Ibejis e foi servido o Caruru, primeiro para os erês e depois para a imensa fila que se forma tradicionalmente para alimentar o corpo com esse delicioso prato da culinária afro-brasileira, e o espírito de muito axé e gratidão.




Para que toda essa movimentação fosse possível, muita gente se mobilizou e trabalhou duro, antes, durante e depois do evento: equipe de infraestrutura; as queridas tias da cozinha Nede, Araci e Aida, também seu Zé Carlos; coordenação executiva e administrativa, assessoria de comunicação, cobertura audiovisual e fotográfica, coordenação pedagógica e de educomunicação.



Alimentados estamos para seguir na luta por um mundo mais do nosso jeito, cuidando da educação das nossas crianças para semear um futuro de liberdade e reparação. Essa é a nossa pedagoginga, nossa educação, nossa ancestralidade, religião e cultura. A cada caruru nos fortalecemos, e a cada novo sorriso de nossas crianças, renascemos. Precisamos agradecer!