"Gênero
não é binário. É uma hierarquia.
É
global em seu alcance, é sádico em sua prática e
é
assassino em sua realização. (...)” Lierre Keith
Nesse
Novembro Negro, gritamos Aqualtune para pautar: as mulheres não
serão tolerantes ao posto de objetos numa prateleira enfeitada,
muito menos como loucas, quando pomos o dedo na cara de quem quer que
seja para escancarar o machismo!
No
Sul da Bahia, movimentos e diversas pessoas, especialmente mulheres,
se posicionam em favor da denúncia da estudante de Comunicação
Social da UESC Nátali Mendes,
constrangida publicamente pelo professor da mesma instituição André
Rosa, que usou de uma infeliz postura de elogio, um segurar de braço
seguido da oferta de seu cartão para ter aquela estudante no rol de
inúmeras mulheres que tem se pronunciado desde então vítimas de
constrangimentos ainda maiores nas abordagens daquele professor. Já
ouvi uma amiga me questionar: mas qual mal ele fez afinal? Não me
canso de explicar: o uso abusivo do poder de professor para com uma
aluna, dentro de uma instituição onde ele exerce autoridade sobre a
estudante, ele usou de sua autoridade através do cartão, do direito
que se outorgou de pegar em seu braço pra promover um elogio! Seu
pedido de desculpas foi tão infeliz quanto o seu ato de assédio.
Trouxe o turbante como o motivo do fato. Mas professor, logo o senhor
que trilha tanto pela pauta das questões afirmativas? Folclorizou e
fantasiou a coroa da mulher negra? É desentendimento ou o senhor
está montando uma grife de turbantes?
Infeliz,
mexeu com uma mulher negra
empoderada,
altiva, do
asè e que
tem voz. Mas essa mulher não está falando apenas por ela. São
diversas as situações de mulheres que já passaram por
constrangimentos com esse professor dentro e fora da universidade e
que silenciadas, talvez até acreditassem que o problema era o seu
corpo, ou simplesmente desacreditaram da sua capacidade de reagir.
Depois
do
episódio no auditório, Larissa Pereira, que presenciou todo
ocorrido afirma: “Desde
então tenho ouvido reiteradas denúncias individuais de atuais ou ex
estudantes da UESC: :"Ele quis pegar na minha bunda", "Ele
disse que queria me comer", "Ele pegou em mim e disse que
eu era gostosa" "Minha mulher preferida é a que tem
buceta". Para os olhos desavisados ou coniventes estas falas
podem ser elogios. Para mim, mulher negra e feminista, essas falas
são formas de naturalizar a histórica coerção machista sobre o
meu corpo. As mulheres que denunciam são, em sua maioria, do círculo
social do referido professor. Mulheres militantes da causa
educacional e/ou racial. Mulheres que cansaram de ver um homem se
arvorando do poder fálico para conseguir privilégios. Continuo
enojada. Continuo engajada. Vamos à luta, homens e mulheres
comprometidos com uma sociedade justa.
A
denúncia tem sido usada política e sensatamente pra pautar a
universidade, que com certeza traz outros inúmeros casos similares
(não precisa de pesquisa científica para provar tal afirmação, do
meu lugar de fala, basta ser mulher) e isso no mínimo vai qualificar
o debate no importante ambiente cultural que é a universidade.
“Assédio
por parte de professores homens na universidade é assunto recorrente
que corre à boca pequena. Já vi mulheres sendo desqualificadas em
bancas de TCC, reprovadas em disciplinas por conta de não ter cedido
à "cantadas". Espero que a Universidade (Reitoria,
professores, estudantes, funcionários), a UESC nesse caso, se
posicione, ou vamos continuar colocando curativos nos ferimentos umas
das outras, enquanto cultivamos em silêncio a dor de carregar corpos
violados.” Hundira Cunha
Claro
que isso também tem causado diversas reações conservadoras e
machistas que invertem a lógica da situação e trazem a estudante
Nátali para o centro do problema. Ela seria então a desequilibrada,
a exagerada, irresponsável, que quer se aparecer, a quadrada que não
entende uma cantada ou a insensível que quer acabar com a carreira
do “coitado” do professor. É esse o jogo perverso que a
dominação masculina promove e reproduz cotidianamente. Aí boa
parte dessa sociedade se coloca contra as Nátalis, Marias, Danielas,
Verônicas, Brisas, Larissas. Ou não é evidente que esse não é um
caso isolado? Por que parece que essa parte da sociedade só daria
razão se fosse o crime de estupro, mas se fosse um estupro em quem
tivesse bem vestida, não provocasse a libido alheia e de
preferencia, fosse religiosa... Confere, produção?
A
essa sociedade, que muitos respeitam enquanto um nicho ideológico
reacionário e conservador, nos levantaremos todos os dias, sob o
raio e o vermelho de Iansã pra dizer: Basta! O machismo não
passará!
A
feminista negra
Audre
Lorde nos alerta que “temos
sido educadas numa sociedade doente e anormal, e nós devemos estar
num processo de retomar a nossa vida, mas não nos termos dessa
sociedade. (...) O sujeito e o assunto da revolução somos nós
mesmas, é a nossa vida". Dessa forma, eu queria dizer ao
professor André Rosa e toda a parte da sociedade que o apoia,
especialmente aos homens que exercem seu poder fálico para impor sua
dominação física, simbólica, emocional e até mesmo profissional,
que nós, mulheres negras, estamos praticando
a irmandade como principio básico do feminismo. Seremos combativas
igualmente contra o racismo e contra o machismo! Nenhuma passo atrás,
Nenhum silêncio reinará!
Quem
eu sou?
(escolha
um ou mais nomes abaixo)
Eu
assino como Maria, Nátali, Ronara, Nana, Dania, Say Adinkra,
Hundira, Larissa, Cláudia, Quenia, Fernanda, Daniela Galdino, Preta Ashanti, Brisa,
Karen, Joana, Carla, Grasieli, Michele, Jorge Rasta, Hugo Xoroquê,
Negus Jorge, Gominho Neves, Tiago Dendê, Yure Mendes...
Sul
da Bahia
Noite
de 15 de novembro, sob chuva, raio e trovão
Eparre
Oyá!
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