Encontro de gerações e segmentos sociais: vida agroecológica! |
Entre
os dias 21 e 23 de fevereiro de 2013, no Assentamento Terra Vista,
município de Arataca, Sul da Bahia, A Jornada de Agroecologia seguiu
seus primeiros passos no ano de 2013, cumprindo a proposição de
trabalho em rede.
A
Jornada, inciada em novembro 2012, com um grande evento, se propôs a
ser uma caminhada permanente com o desafio de articular diversos
movimentos do campo e da cidade para em rede, por em prática a
agroecologia como um princípio de existência e sustentabilidade.
Assentamento
Terra Vista, Aldeia Caramuru Paraguaçú, Aldeia Tupinambá de
Olivença, Aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, Casa do Boneco de
Itacaré, Instituto Eco Bahia e as ilustres presenças de Mestre
Lumumba (SP) e Mestre Lua Santana (Chapada Diamantina), crianças,
tambores, debates, chuva, lua, rio, fogueira, cantigas, rodas de
conversa, deram o “tom” do evento da Rede no desafio de construir
uma Agenda de Planejamento da Jornada, assim como iniciar as
definições básicas da atuação da rede.
O
evento foi iniciado com um grande debate de análise de conjuntura.
Mestre Lumumba traçou uma importante linha histórica para defender
que tão importante quanto sabermos de onde viemos, é saber
conhecer contra quem estamos lutando. Nesse sentido, a fala do mestre
percorreu as Cruzadas, as estratégias de extermínio do povo
indígena, a educação que fragmentou o conhecimento e a relação
dos mais velhos com os mais novos e uma dura crítica ao Estado
Brasileiro:
“Se
você é europeu ou da classe dominante, precisa de 5 anos para fazer
uso capião da terra. Nós estamos há 5 mil anos (os índios) e não
temos direito, o quilombola está há 300 anos e não tem direito...
O Estado Brasileiro não tem nenhuma intenção de cumprir trato com
a gente e precisamos entender a máxima da escravidão: 'quem come na
minha mão, não me olha nos olhos'...”
Em
se tratando da agroecologia, afirma que africanos e indígenas têm a
mesma concepção do universo e adverte que a agroecologia pode até
ser um nome novo para muita gente, ter livros de intelectuais sobre o
tema, mas nada mais se trata de um retorno. “Já vivíamos em
harmonia com a natureza, agroecologia é o conhecimento da tradição
oral de nossos mais velhos, o nosso maior desafio é reconectar as
gerações”
A
liderança indígena Célia, professora e moradora da aldeia
Tupinambá na Serra do Padeiro, tratou da visão da mulher indígena
e negra em relação à luta pela posse de terras e na vida cotidiana
de sabedoria e luta do povo indígena. Já o companheiro Joelson do
MST, ressaltou a importância de 3 frentes organizativas: de
mulheres, de jovens e da produção:
“Essa
é uma sociedade velha, chegando ao fim. Temos um papel fundamental
em reencantar o mundo. Nossa dificuldade em se unir foi plantada
historicamente. Nós não temos muito tempo... Nós precisamos nos
encontrar...”
Em
sua intervenção, o Cacique Nailton relatou as vivências na sua
aldeia, ressaltando o quanto é importante o cuidado espiritual, que
está ligada a força dos orixás, caboclos ou encantados. Fez um
paralelo entre formação e educação, enfatizando o quanto é
importante se distanciar um pouco mais das novas tecnologias e
valorizar as técnicas artesanais transmitindo aos mais jovens,
principalmente no que diz respeito ao cuidado desses povos com a
saúde, sendo que a natureza dispõe de todos os produtos necessários
para promover curas, a chamada farmácia viva.
A
discussão de Rede, conduzida pelo Instituto Eco Bahia, trouxe uma
reflexão sobre o quanto a sociedade do consumo dispõe de uma
tecnologia para confortos desnecessários com repercussão no impacto
ecológico e desrespeito aos ancestrais. Segundo o companheiro
Calango:
‘’A
natureza nunca diminui a vida, ela só aumenta a quantidade e a
qualidade de vida daquele local. Se a natureza é biodiversa, ela
traz variedades de harmonia para o ser humano. A gente não precisa
aprender nada, tudo o que a gente precisa saber da natureza ela mesma
ensina.’’
A
Rede, que a Jornada de Agroecologia deu início, tem uma atuação
inicialmente focada no território Litoral Sul e nesse evento já
começou a articular a Associação de Agroecologia dos Povos da
Cabruca.
O
trabalho da rede segue para a Aldeia Caramurú Pagaraguaçú em Pau
Brasil nos dias 23 e 24 de março e estará trabalhando para uma ação
permanente de intercâmbio, trocas de práticas e saberes
identitários, mobilização de jovens e mulheres, produção de
alimentos saudáveis, comercialização e formações diversas.
Say
Adinkra, articulação da Rede de Agroecologia dos Povos da Cabruca
Texto
feito com a colaboração da relatoria de Nátali Mendes e Ana Opará
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