A Casa do Boneco de Itacaré é uma
entidade sem fins lucrativos que atua no sul e baixo-sul da Bahia desde 1987,
resistindo diariamente como povo preto desenvolvedor de programas de resgate
dos valores ancestrais africanos, dos povos indígenas, tradicionais e de
terreiro, traçando uma linha de desenvolvimento produtivo e sustentável. Entre
maio e junho de 2015 tivemos pela segunda vez a oportunidade de atravessar o
oceano rumo ao continente Mãe África para desfrutar desses valores e
compartilhar desses saberes com nossos irmãos da Guiné-Bissau, dos quais fomos
brutalmente separados pelo colonialismo escravagista. Esse reencontro é
necessário!
Através da experiência de troca numa
perspectiva pan-africanista com os povos guineenses, negamos o caráter
exploratório dos excursionistas que adentram à África para usufruir de suas riquezas
e disseminar uma imagem deturpada da mesma, reconfigurando o colonialismo na
atualidade, e nos comprometemos com a solidificação de um intercâmbio
verdadeiro e sincero acerca dos costumes, das tradições, dos desejos e das
lutas que constituem a razão de ser desses povos, dentre eles a defesa do não
derramamento de sangue.

Queremos deixar escuro a nossa
resistência de caminhar ao lado de Hamilton, Andréia, Fred, Tony, Jamile, e
toda a galera que cola na corda do Reaja sem discurso vazio ou poucas palavras,
estamos aqui reafirmando o nosso compromisso real e intenso de seguir até o fim
reagindo contra todas as forças que querem de alguma forma calar as nossas
vozes. NÃO VÃO CONSEGUIR!
Nós somos frutos da resistência de
Zumbi, Gangazumba, Amílcar Cabral, Malcom-X, Dandara, Akotirene e todos os
Panteras Negras que encabeçam a nossa luta. A disposição aqui é a mesma para
além do estado e forças armadas. Agradecemos a todos da Ilha de Bubaque que
acreditaram em nossas vozes, em nossos compromissos, lutas, pensamentos e
causas e puderam juntamente construir esse ato entendendo a importância da luta
de se manter vivo e a resistência de perpetuar a história dos nossos
antepassados. O depoimento de cada um de vocês reverberou um fortalecimento na
caminhada e na postura enquanto homens e mulheres pret@s.
Obrigada Silvano, Julinho, Tony, Adão, Olga, Joaninha, Alçania, Luiz, Didi,
Isa, Tina, Hilário, Maio, Ovik, Nisio, Fanta, Tâmara, N'dingue, Lilica, Fátima,
Francilino, Ernestina, Totô, Eduardo, Cátia, Mira, Ulai, Erasmo e a todo povo
da Ilha de Bubaque que pigmentou intensamente a nossa luta com uma identificação
real com a proposta.