Entre
os dias 29 de outubro e 03 de novembro de 2013, reunimos no Quilombo Lagoa
Santa, município de Ituberá, durante A Mostra Quilombo Incena e Fórum Baiano de
Cinema Comunitário, o movimento cineclubista baiano, 3 núcleos do norte
nordeste da Rede Mocambos (Estados Bahia, Pernambuco e Pará), Coletivo Nordeste
Livre, Alumiar, Brigada de Áudio Visual dos Povos, Teia de Agroecologia e
comunidades quilombolas baianas. Neste quilombo, ao vivenciar a cultura e a
espiritualidade negra junto à linguagem estética do cinema numa perspectiva
comunitária, queremos manifestar nosso protesto ao latifúndio do ar configurado
pelo exercício da perversidade, pelo monopólio da verdade e dos recursos,
geradores de invisibilidade e esquecimento.
Não
queremos o crescimento pelo desenvolvimento e sim o crescimento pelo
envolvimento, já que o primeiro gera um desenvolvimento cultural de baixo
conteúdo, sem potencia criativa e condições de sustentabilidade, e o segundo
promove o envolvimento profundo com a bioenergia, a ancestralidade e o poder de
nossa cultura promovedora de educação, humanização e dignidade.
Nosso
modo de vida negro, não separa militância de festa, por que na cosmovisão
africana esses e outros elementos são uma coisa só, mas o nosso sistema de
comunicação não toca nossa música, não exibe nossa história nos filmes, não
gera referencia positiva para nossas crianças e jovens, pelo contrário, através
do audiovisual e do rádio dominantes, reproduz o latifúndio e valores racistas,
não reconhecendo a cultura como riqueza , inferiorizando-a como um não saber
para eliminá-la. Os meios de comunicação convencionais promovem um desserviço
às nossas festas, nossos brinquedos, aos mestres e mestras populares, nossa
matriz africana.
As
tecnologias da comunicação e a linguagem do audiovisual devem ser popularizadas
nas nossas comunidades para estar a serviço da atualização dos brinquedos
culturais e seus saberes ancestrais colaborando com o avanço das pedagogias que
influenciam na mudança da educação formal e informal.
Só
o povo pode resolver o problema do povo. As experiencias de comunicação
comunitária de audiovisual e rádio são os nossos melhores caminhos para
combater a dominação perversa de nossos meios de comunicação e iremos nos
fortalecer por esse meio, seja tomando de assalto os nossos direitos e as
rédeas de nossa comunicação, seja enfrentando a polícia que criminaliza nossa
vida, nosso tambor, nossa comunicação.
Atacamos
assim, esse latifúndio em defesa da reforma do ar, para defender
a popularização do acesso bens e serviços culturais, recursos financeiros, assistência técnica,
condições de itinerância para que nossas experiencias de comunicação
comunitária sejam fortalecidas e replicadas prioritariamente em periferias,
quilombos, terreiros, aldeias e outras
comunidades tradicionais diversas
Nossos
filmes brasileiros precisam superar os “abortos de comunicação” frequentes em
nossa cultura quando um filme é financiado com recurso público e não chega a
ser visto pelo povo, numa lógica que não pode mais ser limitada ao mercado, mas
ao potencial educativo, criativo e artístico que pode promover mudanças dos
valores sociais. Não acreditamos no cinema comercial que está posto para distribuir o cinema brasileiro,
os filmes brasileiros precisam ter outra lógica e dialogar com o seu povo.
Mais
do que isso queremos fazer nossos filmes numa perspectiva comunitária, formando
editores nas comunidades, preservando nossa memória negra, um cinema do povo
para o povo.
Defendemos
que a Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura, bem como seu Conselho
Consultivo, As Secretarias estaduais de Cultura e Comunicação, Institutos de
Rádio Difusão, Colegiados e Setoriais de
Audiovisual, superem o papel tão ínfimo no atendimento da comunicação
comunitária, cumprindo seu dever diante das demandas das comunidades.
Nós
comunidades negras, quilombolas, indígenas, assentados, cineclubistas, povos de
terreiros, ativistas culturais e sociais aqui reunidas, romperemos com a
perspectiva de público passivo, para nos tornamos sujeitos de direitos ativos
na descolonização do olhar para a leitura das imagens de mundo.
Quilombo Lagoa Santa, 03 de novembro de 2013
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