A comunidade de Lagoa Santa, em Ituberá
(BA), recebeu e acolheu afetuosamente o projeto Quilombo In Cena e
sua caravana, entre os dias 29 de outubro e 3 de novembro, na sede da
associação da comunidade.
A movimentação foi grande. Entre as
organizações e comunidades participantes, estavam: uma
comunidade quilombola de Itacaré (Serra de Água), três comunidades
quilombolas de Ituberá (Ingazeira, Campo do Amanso e Lagoa Santa),
todas as três comunidades que compõe o território de Lagoa Santa
(Matinha, Riachão e São João) e diferentes coletivos como Nordeste
Livre, Casa do Boneco de Itacaré, Teia de Agroecologia dos povos da
Cabruca e da Mata Atlântica, Rede Mocambos (Bahia, Pará e
Pernambuco), Coletivo Alumiar/ Projeto Pirilampo, Brigada de
Audiovisual dos Povos e cineclubes baianos.
O encontro entre a
comunidade e essas lideranças e coletivos tinha como objetivo
realizar duas ações. A Mostra Audiovisual Quilombo In Cena ocorria
todas as noites, apresentando filmes do cinema negro nacional. Ao
todo, foram quatro curta-metragens, e 3 longa-metragens. Entre eles,
“Terra deu, Terra come” e “Quilombos da Bahia”, filmados em
comunidades quilombolas. A exibição desse último, realizado há
dez anos, contou com a presença do diretor, Antônio Olavo, que
debateu o filme e falou sobre a experiência de produzi-lo.
As sessões estavam sempre
lotadas, com espectadores que vinham das mais diversas formas,
movimentando as estradas do quilombo para ter acesso ao cinema. A
partir dessa experiência, Gilmara Conceição avaliou que “o cinema é uma nova forma de reunir a
comunidade. O quilombola passa a ter uma referência de outro tipo de
evento, e isso é muito importante. A gente nunca teve isso aqui com essa qualidade.”
Cada sessão teve um
público médio de cerca de 200 pessoas. A mostra foi encerrada com
as apresentações do terno de
reis e do samba da comunidade da Matinha, além do samba de roda da
comunidade da Ingazeira. Nessa noite, também ocorreu uma homenagem
a Luiz Marcos, criança que compôs o material gráfico do projeto.
Paralelo à mostra
audiovisual, ocorreu o Fórum Baiano de Cinema Comunitário, que
com três debates relacionados à comunicação, à produção
audiovisual, ao movimento cineclubista e à cultura popular. Foram
convidados para conversar: Mãe Beth de Oxum(Coco de Umbigada e Rede Mocambos-PE), os cineastas
Antônio Olavo (BA), Adyr Assunção (MG) e Pedro Rajão (RJ), o
jornalista Ronaldo Eli (Coco de Umbigada e Rede Mocambos-PE), os cineclubistas Gleciara Ramos e Jorge
Conceição (BA) e as lideranças populares
Joelson Santos (MST-BA), a produtora cultural
Tininha Llanos (Minc-BA), Jorge Rasta (Casa do Boneco de Itacaré e Rede Mocambos-BA) e Don Perna
(Casa Preta e Rede Mocambos-PA).
João Rafael faz parte do
cineclube Viola de Bolso, em Eunápolis (BA). Após participar dos
debates, ele disse: “foi importante estar junto com os produtores
e trocar com muitas pessoas de diferentes grupos. Percebo o
cineclubismo com grande potencial de mobilização e espaço
político. O central desse evento foi refletir sobre quem conta nossa
história e como ela é contada.”
Como resultado dos
debates, foi formulado um plano de ação para a continuidade e
o aprofundamento das ações em Lagoa Santa, visando ao seu
fortalecimento enquanto pólo de cinema comunitário e manifestações culturais populares. Entre
as propostas, está a construção de um filme a partir dos processos
de formação em audiovisual a serem realizados na comunidade, a
implementação d euma rádio livre e a realização de um festival
cultural na comunidade. Jorge Rasta destacou como positiva a
participação local nos debates. “O fórum
contou com a presença da comunidade na discussão sobre as
fragilidades existentes na manutenção de suas manifestações culturais
tradicionais, como as dificuldades para acessar os recursos
distribuídos através de editais e para atrair os
mais jovens”, relata Jorge.
Além do plano, foi
elaborada uma carta, que dialoga com as questões colocadas pelos
coletivos presentes, abordando uma visão mais ampla e politizada
sobre os debates, e firmando
posições
sobre questões relativas aos setores audiovisual, da cultura popular e da cultura negra (http://casadoboneco.blogspot.com.br/2013/11/manifestoquilombo-lagoa-santa-entreos.html). Ainda no último dia, foram realizadas oficinas, como a de montagem do cineclube, estética afro, dança afro e elaboração de projetos.
O Quilombo In Cena 2013
foi uma continuidade do projeto Cine Quilombola, e aponta para novos
desdobramentos, como o maior envolvimento dos movimentos cineclubista
e de comunicação livre com as comunidades negras tradicionais.
O encantamento da comunidade ao se ver no cartaz
e na tela, foi evidente e emocionante, e mostra a importância de
viabilizar o acesso às obras do cinema
negro e aos meios para sua produção. “O cinema com esse conteúdo
negro retrata o dia a dia da população negra. Eles acham graça, se
emocionam, percebem e dão importância a coisas que antes não
davam, mas que o cinema traz num patamar de valor, de beleza, de
importância.” diz Andreza Bonfim, produtora do projeto Pirilampo,
de Ilhéus (BA).
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