"A
Teia Agroecológica nos agrega, recupera o sentimento de que somos
uma só nação. Tupinambás, quilombolas, pataxós e os descendentes
dessas etnias que são chamados de “sem terra”, como se não
fossem os legítimos herdeiros dos mais antigos dessa terra. Até que
ponto a ilusão nos confunde?" Mestre Lumumba
Encontro da Teia sempre pautado por colaboração e solidariedade |
Terra,
água, folha, ar, pena e axé: assim foi
a primeira experiência prática da Teia Agroecológica dos Povos da
Cabruca e Mata Atlântica em 23 e 24 março de 2013 na Aldeia
Caramurú Catarina Paraguaçú em Pau Brasil, Sul da Bahia,
integrando comunidades de várias regiões da Bahia entre
quilombolas, pequenos agricultores, assentados e índios de várias
etnias.
O
Povo Pataxó Hã hã hãe, desde a década de 70 lutava para
retornar às suas terras em Pau Brasil, ocupadas por fazendeiros de
gado. Depois de 30 anos de luta, a aldeia foi reintegrada ao povo
indígena em total degradação e nenhuma providência do Estado:
terras ressecadas, ácidas e insuficiente fluxo de água provocado
pela extrema devastação e desmatamento da floresta e suas
nascentes. Houve uma profunda alteração no bioma natural da
reserva indígena, o que sucumbiu a rica cobertura biológica da
mata atlântica, isso ocorreu como um resultado de uma produção
capitalista e latifundiária.
Parte do grupo reunido organizando a divisão de tarefas |
A
atividade, auto gestionada pelos presentes, foi conduzida com a
divisão dos seguintes grupos: limpeza e coleta de adubo no curral;
construção e povoamento do viveiro de mudas (açaí, cupuaçu,
guaraná, abacaxi, juçara, canela, cana, coco); preparação e
balizamento do plantio do SAF ( sistema agroflorestal ); cozinha –
produção de alimentos da atividade; construção de banheiros secos
e dependências coletivas; comunicação; produção e manutenção
do evento.
Após
um breve diagnóstico da aldeia, que se uniu aos conhecimentos dos
ancestrais dos anciões e griots da terra, um “adjunte”, digno
dos povos que o compõe com rodas de saberes conduzidas por Mestra
Val (parteira), Cacique Nailton, Cacica Maria Munez, Líder Joelson,
Mestre Lumumba, Mestre Jorge Rasta e outros, trouxe para o evento
uma programação especial com técnicas de plantio e estratégias
de combate de pragas, rituais sagrados e de cura, produções
artísticas e culturais, vivência sagrada a exemplo da roda das
mulheres que exaltou toda a mística e empoderamento feminino e do
ritual do plantio que culminou em uma inesquecível chuva precedida
por um sol escaldante.
No ritual do plantio, a chuva, generosa, deu o sinal da proteção dos deuses. |
Essa
foi a primeira intervenção da Teia após o planejamento realizado
em fevereiro desse ano, significou apenas o início de um ciclo que
percorrerá todas as comunidades envolvidas, pautado sobretudo pelo
compartilhamento e solidariedade entre os povos, moldando uma atuação
que deseja construir uma renovação na perspectiva agroecológica no
Território Litoral Sul.
O
evento contou com uma importante doação de alimentos do PAA de
Ituberá, de Itacaré e Pau Brasil e teve diversos colaboradores
locais de Pau Brasil e Arataca. Sua construção ocorreu a partir da
articulação da Teia que reúne o Instituto Eco Bahia, a Casa do
Boneco de Itacaré, o Assentamento Terra Vista e a Aldeia Caramurú
Catarina Paraguaçú, recebeu ainda apoio do Neppa e de estudantes
da UFRB.
Um comentário:
Foi muito lindo e gratificante, a nossa reconstrução perpassa por entender estes espaços e nossa pluralidade, vejo o tamanho da tarefa que temos de desconstruir o que nos fora construído, a forma como os povos diferentes culturas são os nossos inimigos, porque na verdade a soma destes povos "minoritários" é que forma a nossa grande coletividade que Marx chama de " Classe oprimida" pois nos forma privadas as nossas ferramentas para a subsistência, e a terra é um delas.Mas agora jutos, todos os povos estamos no caminho deste desmonte ideológico e físico que nos impuseram. Viva, axé, a todos os Deuses, a Tupã, A oxalá, a Ogum, Iansan. Um a forte a abraços a todos os presente e aos ausentes que contribuíram antes e depois.
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