27/04/2018

CBI receberá turma de Geografia da USP para vivência sobre Geografia Quilombola!


Entre os dias 28 e 30/04 a Casa do Boneco receberá uma turma com mais de 70 pessoas do Departamento de Geografia da USP - Universidade de São Paulo. O receptivo fará parte de trabalho de campo que a turma estará realizando com a disciplina de Regional África, e a vivência proposta junto à CBI engloba Roda de Saberes sobre Geografia Quilombola, além de oficinas e cultural.



Confiram texto fornecido pela turma, que demonstra a importância dessa atividade:

‘‘Em nosso curso de Geografia, há mais de 10 anos essa disciplina não era ofertada. Assim, tivemos gerações de geógrafos e geógrafas que saíram da universidade sem terem estudado um continente extremamente complexo, rico em experiências e histórias e geografias que mal conhecemos: a África. Sabemos que 75% dos alunos e alunas formados em geografia da USP tornam-se professores e professoras... O que eles ensinam sobre a África em sala de aula?

Em praticamente todas as matérias da Geografia da USP, como “Geografia do Estado de São Paulo”, “Regional América Latina”, “Geografia Urbana” ou “Planejamento”, nós lemos autores europeus. Somos ensinados a comparar as cidades brasileiras com Paris, o camponês brasileiro com o camponês francês, a luta dos trabalhadores daqui com a dos operários ingleses. Por que as experiências, cidades, lutas ou modos de ser e viver dos milhares de povos do continente africano nunca são vistas como referência para que possamos entender a realidade brasileira? Por que os países da África nunca são apresentados em nosso curso?

Invisibilizar a complexidade do território e dos povos africanos, em poucas palavras, é racismo. É esse mesmo racismo que faz com que alguém chame ao outro de “macaco”, racismo que exclui ao povo negro das universidades, racismo que assassina a população negra e com ela, as suas formas de ser e de pensar.

Para lutarmos contra essa realidade, estamos realizando o trabalho de campo. Em nosso trajeto, iremos conhecer as resistências dos povos vindos da África que constroem suas comunidades e autonomias no Sul da Bahia. Conheceremos o Assentamento Terra à Vista, a Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves, a Casa do Boneco de Itacaré e o Terreiro do Campo Bantu-Indígena Caxuté.

Finalmente, conheceremos “outras referências”: as comunidades tradicionais, os povos de terreiro, os diaspóricos do campo e da cidade, o povo preto que luta para reafirmar os nossos valores ancestrais. Gostaríamos de levar para a universidade a voz e a ação dos nossos verdadeiros mestres, esses que muitas vezes sequer sabem escrever, mas sabem mais do que qualquer intelectual quais são as saídas para a construção de um outro mundo, de uma outra geografia.’’

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