Artesão,
coreógrafo, figurinista, diretor teatral, carnavalesco, alegorista, músico,
passista, folclorista, sabe-se lá quantas profissões podem se concentrar em um
grande Mestre, como o nosso querido Morenito.
Suas miniaturas de canoas e embarcações tradicionais
de Itacaré, ou a ‘‘guiga’’, sua criação mór feita com ripas de jenipapo e lona
no modelo de um caiaque são algumas das obras que Seu Morenito idealizou e deu
vida como artesão.
O Paturi,
figura tradicional da cultura itacareense, seus afoxés enriquecidos com uma
variedade de expressões indígenas, sua africanidade ingenuamente expressa,
transmitindo cenários compostos por uma pluralidade única de olhos capazes de
registrar alegoricamente truques e decorações existentes nas mais variadas
manifestações brasileiras, desde sobreposição de lantejoulas e plumas das
escolas de samba cariocas que sempre lhe inspiraram, aos búzios e miçangas do
‘‘Filhos de Gandhi’’.
Na captura
incessante de natureza morta, com suas próprias mãos e sabedorias a remar por
entre mangues e comunidades ribeirinhas, pela Povoação, Santos Amaro, Joao
Rodrigues, coletava da curtiça à
taipoca, do sapé ao Imbé, bambu, palha de licuri, palma de coqueiro e dendê,
tinta de urucum, lágrima de Nossa Senhora, pena de galinha e de peru, arco de
jenipapo, pau-pombo esculpido e qualquer outra belezura que aparecesse.
Metabolizado e condensado por uma criatividade
digna de que quem protagonizava a cultura materializada em ranchos, ternos,
dramatizações, performances, coreografias e solos capturados das mais
longínquas e variadas imagens do cinema à sonhos pessoais. A Grande Jurema e
sua dança com a serpente viva, os pombos que após serem soltos voaram
livremente e pousaram no ombro do homenageado, o canto sincrônico de um coral
que nunca ensaiou junto, das diversas surpresas dentro dos cortejos, a
composição dos símbolos alegóricos luminosos que decoravam as festas juninas,
do padroeiro, da quermesse ao aniversário da cidade.
Mestre de
poucos seguidores: Tubo, Betão, Palachinha, Sr. Zé Valter, Lico e quem mais?
Mestre de muitos parceiros, a matriarca da cultura Dona Percelina, Dona
Zefinha, Dona Neuzália, Jomária e uma infinidade de pessoas que o espaço não
caberia, mas que permite que se pronuncie. Aprendiz e parceira, a Casa do
Boneco teve o prazer de estar ao seu lado nos últimos 26 anos, protagonizando o
que o mestre exibia de melhor: música, dança, cores e alegria recheadas de
voluntarismo e boa vontade, numa relação de fórum intimo com o Mestre Jorge
Rasta, com horas e horas de imagens, desabafos, projeções, planos que será
necessário mais 95 à 100 anos para serem concretizados.
Assim,
estamos esperando grande Mestre o senhor reencarnar e se agregar ao nosso
elenco da Casa do Boneco, como criança indígena, negra, quilombola, ou como um
membro da comunidade tradicional ribeirinha, mestiça, com o que você tanto se
assemelha.
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