*Por Anaíra Lôbo, Caio Formiga e Say Adinkra
A
Casa do Boneco de Itacaré - Bahia realizou, durante os dias 25 a 29
de setembro, o XII Caruru de Ibeji e as Pedagogingas. Evento maior da
entidade, que acontece todos os anos, é um momento de celebração
para as crianças e tem como foco a ancestralidade africana a partir
da convergência de trocas de saberes entre todas as gerações,
provocando outra perspectiva educacional. A Casa então disponibiliza
para os visitantes aquilo que ela já é: um território de
aprendizados, de axé, de vivência profunda e de convite a pensar
caminhos que construam modos de vida com mais dignidade e afirmação
identitária.
Mestre Elias Bonfim e o encantamento da oficina de bonec |
“A
Casa do Boneco é cada vez mais a nossa Casa e vocês,
cada
vez mais a nossa família”
José
Balbino, morador de Arembepe, pai de Akim, companheiro de Tininha
A
fala de Balbino resume o sentido maior do que significa o Caruru de
Ibeji e as Pedagogingas: o sentimento de família, mas não o
convencional e sim o que é aliado à cosmovisão africana: a família
extensiva, os laços de solidariedade com o sentido de comunidade com
uma disposição especial para cuidar dos modos de celebrar, de
organizar a vida e a educação.
Mestre Lua Santana: oficina de capoeira angola |
Oficina de canto popular com Mariana Bittencourt |
As
atividades tiveram nessa edição, uma variedade ainda maior que os
anos anteriores: oficina de boneco com Mestre Elias; de percussão
com o músico Nei Sacramento; de fotografia e técnicas audiovisuais
com a Brigada de Audiovisual dos Povos e a equipe do Tabuleiro
Digital; oficina de movimentos de dança africana com Kety Kim; de
capoeira angola com Mestre Lua; oficina e instalação de rádio com
Sergio Melo, José Balbino, Ronaldo Eli (Nordeste Livre); grafite com
Ixlutx Ferreira e de canto popular afro-brasileiro com Mariana
Bittencour, além de um conjunto de vivências com contação de
histórias, teatro, arte circense, e brincadeiras livres com os mais
pequeninos da festa!
Tambozada em abertura do evento |
Palhaços Bolota e Tiururico fazendo a animação da garotada |
“Esse
evento consegue trazer muita legitimidade a esse espaço... o espaço
aqui é pedagógico, mesmo quando não está ocorrendo uma
programação, tudo transpira a esse modo familiar de cuidar, de
integrar, de respirar, o foco é mesmo a convivência familiar, vir
para esse evento, é como ir para casa de um amigo e ficar lá... por
isso muita gente deve voltar … A palavra não dá conta, é muito
emocional, visceral”
Mayne Santos, moradora de Serra Grande,
Articuladora da Teia de Agroecologia.
Durante os 5 dias desse evento singular, os tambores revisitavam o nosso sentido maior, assim como os ibejis cuja morte foi enganada quando estes tocavam seus tambores mágicos sem parar... A todo tempo se ouvia os tambores, que passavam pelas mãos das crianças até as mãos dos mais velhos, sem diferenciação de espaços, num exercício natural de compartilhamento e fluidez de sentidos, práticas, trocas.
O
evento foi acompanhado e transmitido ao vivo para toda cidade
pela rádio Amnesia, uma rádio livre, “que esqueceu de seu
dinheiro mas não esqueceu de você”, fruto da experiência do
Coletivo Nordeste Livre, produziu importante cobertura com música negra,
entrevistas e bate-papos, além de partilhar as técnicas de instalação e execução de rádio com os participantes do evento.
Aconteceu ainda, o lançamento do livro "Jogo de Discursos: a disputa por hegemonia na tradição da Capoeira Angola baiana" de Paulo Magalhães, e a noite cultural no sábado com a participação da Banda Sodi, Grupo o Kontra e discotecagem com o comando de Balbino , Akim e Lamartine que embalaram a preparação das comidas do caruru, um grande mutirão que começa no sábado à noite e se conclui próximo ao meio dia do domingo.
Aconteceu ainda, o lançamento do livro "Jogo de Discursos: a disputa por hegemonia na tradição da Capoeira Angola baiana" de Paulo Magalhães, e a noite cultural no sábado com a participação da Banda Sodi, Grupo o Kontra e discotecagem com o comando de Balbino , Akim e Lamartine que embalaram a preparação das comidas do caruru, um grande mutirão que começa no sábado à noite e se conclui próximo ao meio dia do domingo.
No período da tarde de domingo, roupas brancas
e coloridas, tossos, baianas, flores, água de cheiro, fogos,
crianças, muitas crianças e os tambores comandam o tradicional
cortejo que subiram da banca do peixe até a Casa, onde foi oferecido
o Caruru dos Ibeji, momento mais marcante e aguardado do encontro.
A
cada ano, o evento reúne mais pessoas, quem já veio, quer retornar,
que não veio, quer conhecer. Pode-se afirmar, que o evento está
consolidado enquanto agenda nacional que traz o sentido maior das
pedagogingas: essa disposição dos modos e dos saberes, do axé e do
trabalho, do lazer, do prazer e da comida, do oral e do tecnológico,
das mulheres e homens, crianças e jovens, mestres e mestras, do
tambor, do baobá, dos orixás....
“A
Casa tem muita raça pra fazer um evento desse sem apoio nenhum do
Estado, o que nos mantém não está no plano do racional... Somos
muito gratos aos orixás, eles sobretudo nos sustentam e essa força
é alimentada também pelos coletivos e dezenas de famílias que se
integram à nossa para “fazer um mundo mais do nosso jeito”
Diretoria da Casa do Boneco
Diretoria da Casa do Boneco
Oficina de Stop Motions - Brigada de Audiovisual dos Povos |
Aminésia sintonizando as Pedagogingas nas ondas do rádio! |
Noite Cultural em alto estilo no preparo das comidas do caruru |
Banda Sodi garantiu o reggae na noite cultural |
Salve as pretas do caruru! |
Celebração do caruru! |
Confira mais fotos do Caruru aqui: http://www.flickr.com/photos/103371947@N03/
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