06/10/2013

XII Caruru de Ibeji e as Pedagogingas: para celebrar, aprender e partilhar novos modos de vida e beleza!

*Por Anaíra Lôbo, Caio Formiga e Say Adinkra

A Casa do Boneco de Itacaré - Bahia realizou, durante os dias 25 a 29 de setembro, o XII Caruru de Ibeji e as Pedagogingas. Evento maior da entidade, que acontece todos os anos, é um momento de celebração para as crianças e tem como foco a ancestralidade africana a partir da convergência de trocas de saberes entre todas as gerações, provocando outra perspectiva educacional. A Casa então disponibiliza para os visitantes aquilo que ela já é: um território de aprendizados, de axé, de vivência profunda e de convite a pensar caminhos que construam modos de vida com mais dignidade e afirmação identitária.
 
Mestre Elias Bonfim e o encantamento da oficina de bonec

A Casa do Boneco é cada vez mais a nossa Casa e vocês,
cada vez mais a nossa família”
José Balbino, morador de Arembepe, pai de Akim, companheiro de Tininha
A fala de Balbino resume o sentido maior do que significa o Caruru de Ibeji e as Pedagogingas: o sentimento de família, mas não o convencional e sim o que é aliado à cosmovisão africana: a família extensiva, os laços de solidariedade com o sentido de comunidade com uma disposição especial para cuidar dos modos de celebrar, de organizar a vida e a educação.
Mestre Lua Santana: oficina de capoeira angola
Oficina de canto popular com Mariana Bittencourt

As atividades tiveram nessa edição, uma variedade ainda maior que os anos anteriores: oficina de boneco com Mestre Elias; de percussão com o músico Nei Sacramento; de fotografia e técnicas audiovisuais com a Brigada de Audiovisual dos Povos e a equipe do Tabuleiro Digital; oficina de movimentos de dança africana com Kety Kim; de capoeira angola com Mestre Lua; oficina e instalação de rádio com Sergio Melo, José Balbino, Ronaldo Eli (Nordeste Livre); grafite com Ixlutx Ferreira e de canto popular afro-brasileiro com Mariana Bittencour, além de um conjunto de vivências com contação de histórias, teatro, arte circense, e brincadeiras livres com os mais pequeninos da festa!

Tambozada em abertura do evento

Palhaços Bolota e Tiururico fazendo a animação da garotada
Esse evento consegue trazer muita legitimidade a esse espaço... o espaço aqui é pedagógico, mesmo quando não está ocorrendo uma programação, tudo transpira a esse modo familiar de cuidar, de integrar, de respirar, o foco é mesmo a convivência familiar, vir para esse evento, é como ir para casa de um amigo e ficar lá... por isso muita gente deve voltar … A palavra não dá conta, é muito emocional, visceral” 
Mayne Santos, moradora de Serra Grande, Articuladora da Teia de Agroecologia.

Durante os 5 dias desse evento singular, os tambores revisitavam o nosso sentido maior, assim como os ibejis cuja morte foi enganada quando estes tocavam seus tambores mágicos sem parar... A todo tempo se ouvia os tambores, que passavam pelas mãos das crianças até as mãos dos mais velhos, sem diferenciação de espaços, num exercício natural de compartilhamento e fluidez de sentidos, práticas, trocas.

O evento foi acompanhado e transmitido ao vivo para toda cidade pela rádio Amnesia, uma rádio livre, “que esqueceu de seu dinheiro mas não esqueceu de você”, fruto da experiência do Coletivo Nordeste Livre, produziu importante cobertura com música negra, entrevistas e bate-papos, além de partilhar as técnicas de instalação e execução de rádio com os participantes do evento.

 Aconteceu ainda, o lançamento do livro "Jogo de Discursos: a disputa por hegemonia na tradição da Capoeira Angola baiana" de Paulo Magalhães, e a noite cultural no sábado com a participação da Banda Sodi, Grupo o Kontra e discotecagem com o comando de Balbino , Akim e Lamartine que embalaram a preparação das comidas do caruru, um grande mutirão que começa no sábado à noite e se conclui próximo ao meio dia do domingo. 

No período da tarde de domingo, roupas brancas e coloridas, tossos, baianas, flores, água de cheiro, fogos, crianças, muitas crianças e os tambores comandam o tradicional cortejo que subiram da banca do peixe até a Casa, onde foi oferecido o Caruru dos Ibeji, momento mais marcante e aguardado do encontro.

A cada ano, o evento reúne mais pessoas, quem já veio, quer retornar, que não veio, quer conhecer. Pode-se afirmar, que o evento está consolidado enquanto agenda nacional que traz o sentido maior das pedagogingas: essa disposição dos modos e dos saberes, do axé e do trabalho, do lazer, do prazer e da comida, do oral e do tecnológico, das mulheres e homens, crianças e jovens, mestres e mestras, do tambor, do baobá, dos orixás....
A Casa tem muita raça pra fazer um evento desse sem apoio nenhum do Estado, o que nos mantém não está no plano do racional... Somos muito gratos aos orixás, eles sobretudo nos sustentam e essa força é alimentada também pelos coletivos e dezenas de famílias que se integram à nossa para “fazer um mundo mais do nosso jeito”
Diretoria da Casa do Boneco
 
Oficina de Stop Motions - Brigada de Audiovisual dos Povos
 
Oficina de Grafitagem com Ixlutx Ferreira
Oficina de Movimentos de danças africanas com Kety Kim
 
 Aminésia sintonizando as Pedagogingas nas ondas do rádio!



 
Lançamento do Livro de Paulo Magalhães: Jogo de Discursos


Noite Cultural em alto estilo no preparo das comidas do caruru
 
Nei Sacramento com sua banda O Kontra em belíssima apresentação do Xirê dos orixás
Banda Sodi garantiu o  reggae na noite cultural

 
Cortejo do Caruru com os Ibejis Uil e Akim
Salve as pretas do caruru!
Celebração do caruru!
Confira mais fotos do Caruru aqui: http://www.flickr.com/photos/103371947@N03/

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