18/02/2016

FORMAÇÃO EM TURISMO ÉTNICO DE BASE COMUNITÁRIA


Desde 2006 a Casa do Boneco através do seu programa de Sustentabilidade Comunitária vem discutindo e realizando ações voltadas para a implantação e desenvolvimento do Turismo Étnico de Base Comunitária (TEBC), tanto no município de Itacaré quanto a nível regional e nacional, se articulando em redes de parcerias como a Turisol, MTUR, Rede Mocambos entre outras organizações que pautam um modelo de turismo diferenciado do massificado.



Dando continuidade a esse trabalho, nos dias de 21 à 24 e de 28 à 30 de janeiro deste ano a Casa do Boneco realizou uma atividade de capacitação teórico-prática com jovens militantes negr@s de diferentes segmentos de atuação, afim de retomar o entendimento acerca do que propõe o TEBC, tendo como aporte a vivência da instituição e a experiência com a Fazenda Modelo Quilombo D’Oiti, colocando em prática os aprendizados através do receptivo turístico.


O turismo de base comunitária se contrapõe ao turismo massificado pois requer uma menor densidade de infraestrutura e serviços e busca valorizar uma vinculação situada nos ambientes naturais e na cultura de cada lugar. Não se trata, apenas, de percorrer rotas exóticas, diferenciadas daquelas do turismo de massa, mas sim de um outro modo de visita e hospitalidade. Esse turismo respeita as heranças culturais e tradições locais, podendo servir de veículo para revigorá-las e mesmo resgatá-las. Sendo realizada com o recorte étnico racial, como é caso da Casa do Boneco, visa a manutenção da história do povo negro em diáspora, sobretudo às comunidades remanescentes de quilombos.

Durante a explanação teórica @s participantes tiveram possibilidade de entender o conceito e também discutir as premissas básicas para o turismo de base comunitária, como a base endógena da iniciativa e desenvolvimento local, a participação e o protagonismo social no planejamento, a escala limitada e impactos socioambientais controlados, a geração de benefícios diretos à população, a afirmação cultural e a interculturalidade, e o ‘‘encontro’’ como condição essencial. Na parte prática foi realizado todo trabalho de pré-produção para os receptivos, a participação nas rodas de conversas e oficinas, a manutenção do espaço físico, a confecção e servimento dos alimentos, a exibição de performances artísticas e a cobertura audiovisual de toda atividade.



Nesse sentido, novas sementes estão sendo plantadas para a manutenção e constante revitalização das ações voltadas para o empoderamento do povo negro, tendo o TEBC como um dos mecanismos para geração de empreendimentos comunitários e colaborativos que agreguem autonomia e autogestão para os seus protagonistas, conservando valores e práticas afro centradas, heranças ancestrais africanas e indígenas.





RECEPTIVOS DE VISITA TEMÁTICA COM TURMAS DO IFBAIANO - CAMPUS ITAPETINGA


Em uma parceria institucional que já está caminhando para o quarto ano, a Casa do Boneco e os campus dos Institutos Federais Baianos (IF-Baiano) realizam receptivos de uma visita temática, direcionadas pelas instituições afim de cumprir a aplicação da lei 10.639. A Casa do Boneco, a convite do Ministério Público à partir de um convênio desenvolve junto ao IF desde então ações que buscam dar conta dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira nos mais diversos formatos e abordagens, sendo a principal ação o receptivo dessa viagem temática em uma vivência tanto na sede da instituição quanto na Fazenda Modelo Quilombo D’Oiti.

Nos dois últimos finais de semana de janeiro, dias 22 e 23 e dias 29 e 30 recebemos respectivamente as turmas do 3º ano A e 3º ano B em formação no campus do IF-Itapetinga. A cada turma foram cerca de 45 participantes entre estudantes e professores. A viagem temática começa na cidade em Ilhéus, onde as turmas conhecem o Terreiro Matamba Tombenci Neto sob o zelo da matriarca Mametu Ilza Mukalê, e após tour no centro histórico de Ilhéus seguem para Itacaré, chegando na Casa do Boneco no turno da tarde.



O receptivo acontece na sede da instituição, onde inicialmente aconteceu uma roda de conversa de apresentação e explanação acerca dos conteúdos e histórico de lutas por reconhecimento e reparação das questões étnico raciais do Brasil. Em seguida foram realizadas oficinas de estética afro-brasileira, percussão e artesanato.





No dia seguinte a vivência aconteceu na Fazendo Modelo Quilombo D’Oiti, onde as turmas são recepcionadas em um modelo de Turismo Étnico de Base Comunitária e tem possibilidade de imergir em um território remanescente de quilombo que traz em todo o seu contexto organizacional e de atuação a referência à ancestralidade africana. Como roteiro, o receptivo se inicia com roda de conversa, seguindo para uma trilha ecológica que traz toda explanação histórica e geográfica do local. Em seguida, os participantes são convidados a degustar um almoço temático confeccionado dentro dos princípios da culinária afro-brasileira quilombola, e também prestigiam e participam de intervenções artísticas de dança, música e poesia.
 




Ao longo desses anos de parceria tem se percebido por parte das instituições a importância dessas ações para o reconhecimento e afirmação identitária que historicamente é negada aos povos originários, negros e indígenas. As visitas tem gerado uma interação surpreendente entre os participantes, além do fomento ao compartilhamento de um nível altíssimo de informações e conteúdos que digam respeito a essas causas. A desconstrução de estigmas relacionados a religiosidade, a estética e ao pertencimento afro são notáveis, além da criação de vínculos de amizade e colaboração. A Casa do Boneco agradece e convicta da continuidade dessa parceria já espera as próximas ações.




Ojirê Odara!


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