18/12/2009

Os tambores silenciam na Casa do Boneco de Itacaré

Tomba nossa mãe Dadi, Nossa Negra Maria, Nossa Yabá Nzinga...

Griô quilombola, Nossa Ancestral!


Depois de meses sem chuva forte, Yansã estrondou os céus do sul da Bahia na manhã de quinta feira, 17 de dezembro. Os trovões a tempos não ecoavam em” estralos” tão fortes e os relâmpagos comprovavam que a chuva seria forte a estaria prestes a cair... Quando o céu desabou o coração de nossa Dadi já estava parado. Dani, torcia para que não chovesse, afinal, a Mãe Dadi já repetia: toda vez que uma pessoa boa morre, chove forte pra se lavar a alma. Choveu. Forte. No Céu e nas nossas faces. Os nossos soluços ecoavam em nossas almas como os trovões assustavam as crianças da terra. A chuva caiu no tempo necessário de molhar bem a terra, de renovar a atmosfera, de nos oferecer mais oxigênio por que a respiração seria fundamental nessa despedida.

Sem precisar avisar, as flores foram coloridas, “sem um monte de rosa branca” como ela repetia e queria. Mas ela também não queria ninguém triste. Ela não se permitia isso, perdeu uma perna e reagiu como se tivesse perdido um dente. Ficou amiga do seu “cotozinho” e não conseguiu em nenhum momento reclamar ou se queixar de não ter mais uma perna nem a possibilidade de andar. Impressionou, quando achamos que iríamos visitá-la para dar uma força, ela que dava pra gente.

Era querida na Igreja, respeitada no quilombo, era nossa matriarca na Casa do Boneco, linha de frente de apoio e defesa em qualquer circunstância.

Seus braços sempre abertos, sua resistência guerreira em forma de alegria e persistência e sua fé inabalável é assim que iremos ter você pra sempre em nossa memória.

A chuva que abençoou sua partida te faça leve, leve como a luz, agora, sem a limitação do corpo, certamente você estará melhor e será ainda mais feliz em nova missão.

Que a saudade que inundou nosso coração, como a chuva encharcou a terra sedenta nessa manhã, não seja sinônimo de tristeza, mas de um amor profundo que se perpetua e torna nossa vida melhor pelo aprendizado de seu exemplo de vida e nunca de morte. A morte é uma mentira. Você só mudou de plano.

Continue abençoando nossas crianças e não esqueça de que nós adultos somos crianças diante de seu amor. Você se tornou nossa ancestral, nossa heroína e estará para sempre nas páginas de nossa história.

Amor demais

Casa do Boneco de Itacaré.

17 de dezembro de 2009

01/12/2009

II Encontro Nacional da Rede Mocambos







O II Encontro da Rede Mocambos mais uma vez demonstra que as comunidades quilombolas de matriz africana já sabe o que querem e estão fazendo “um mundo mais do nosso jeito”, como Zumbi já dizia há séculos atrás. O evento permitiu mais uma vez que as comunidades se posicionassem diante das políticas públicas e potencializassem a articulação nacional dos núcleos de formação. A Casa do Boneco, como núcleo de formação da Rede está comprometida em fortalecer a articulação local e quilombola, inserindo-a numa formulação nacional já iniciada nesse evento.

III Marcha Zumbi Vive extremece Itacaré






O terceiro ano da Marcha Zumbi Vive, organizada pela Casa do Boneco de Itacaré surpreendeu e estremeceu a cidade no último dia 20 de novembro. O desfile esse ano contou com a presença do Ginásio, Escola Aurelino Leal, Associação de Canoagem, Grupo GDancei, Capoeira Filhos de Zumbi e de diversas personalidades que compareceram ao desfile ou se integraram durante o mesmo. Com a tradicional percussão da Casa no comando musical de Bogo Preto e Nego Jorge e coreográfico dos dançarinos e dançarinas da entidade, abriram o desfile com o emocionante hino da África do Sul, versos e frases ao eterno Zumbi já dava desde o início o recado: a memória de Zumbi está e estará enraizada na memória da comunidade afro, será preservada e mantida em nome de todos os guerreiros e guerreiras que deram seu sangue para libertação ao cativeiro; a memória de Zumbi está para o povo negro como a bíblia está para o cristão, como a água está para o sedento.









Fotos: Mário Nogueira mariosan33@hotmail.com