26/08/2014

Lançamento Oficial do Kit Quilombo Incena



No último domingo (dia 17) aconteceu na comunidade quilombola da  Lagoa Santa (Ituberá-BA) o lançamento oficial do Kit Quilombo Incena, conteúdo resultante da última edição do projeto que aconteceu no final de 2013 na mesma comunidade. O resultado material é apresentado através da exibição do vídeo-documentário ‘‘Nosso Lugar’’ produzido durante as atividades do projeto, e será distribuído através da Associação Renascer Quilombola da Lagoa Santa.







O kit é composto pelo catálogo que reúne uma pesquisa riquíssima de referências do cinema negro no Brasil e no mundo, e o dvd com 4 mídias contendo os curtas: ‘‘Nosso Lugar’’ (documentário produzido na própria comunidade durante a última edição do projeto), ‘‘Pode me chamar de Nadi’’, ‘‘Vida Maria’’ e ‘‘Malunguinho’’; e os filmes: ‘‘Quilombos da Bahia’’, ‘‘Terra deu, Terra come’’ e ‘‘Encontro com Milton Santos’’.




‘‘Esse vídeo ai serve pra nos manter fortalecidos, através dessas políticas que não chegam até a gente, pra falar com autoridade: está aqui a verdade e nós conseguimos!’’ (Seu André ''Catixa''- morador e liderança comunitária da comunidade quilombola da Lagoa Santa)



O objetivo da circulação desse material é de trabalhar com ferramentas tão poderosas como o audiovisual e o cinema para a representação do povo preto e das comunidades tradicionais, cujo espaço é completamente deturpado e até mesmo invisibilizado nos meios de comunicação hegemônicos. Atuando numa perspectiva de conteúdo educativo, esses materiais contribuem para a manutenção da identidade dessas comunidades, além de serem instrumentos de formação política.









08/08/2014

I Trecho do Projeto Três Pedrinhas: unindo o saber ancestral à apropriação tecnológica!




  Norteados pela temática ancestral da cultura do partejar e das ervas sagradas e medicinais, imersos no Encontro de Vivências Agroecológicas no Assentamento Terra Vista, o I Trecho do Projeto Três Pedrinhas (de 01 à 03 de agosto) proporciona dias de aprendizados e ações que unem os povos numa perspectiva de luta e espiritualidade, tradição e tecnologia. O ritual religioso do Toré indígena, a roda, o canto, os maracás e os tambores abrem o nosso encontro com o fortalecimento espiritual, conectando os povos através dos orixás, caboclos, boiadeiros e encantados.




















Vivenciar na roda de conversas com as mestras é ter contato com as guardiãs dos saberes tradicionais, tão essenciais para a vida, o nascimento, a cura dos males do corpo e do espírito. Ao mesmo tempo, nos esbarramos nos dados que apontam o número de 60.000 parteiras tradicionais que não tem o devido reconhecimento, e são rechaçadas por possuir um saber que não é o da caneta.










Dona Josefa, a querida Zefa da Guia (Sergipe) traz de sua comunidade quilombola a experiência em ‘‘pegar menino’’, saber herdado de suas ancestrais que desde os treze anos passou a exercer, sempre aliada à espiritualidade, as rezas, as curas:
‘‘Meu trabalho de parteira é ensinar transportar a vida, um é Deus, o médico dos médicos. Deus deu um saber pra gente, e o trabalho de parteira tem muita responsabilidade e autorização [...] eu trabalho rezando!’’. Não há mal, nem do corpo e nem do espírito que se mantenha diante dos tratamentos, remédios e simpatias que a Dona Zefa nos ensina, de mau-olhado à miomas, ela sempre terá um elixir que cure a sua mazela.





Yalorixá Maria Lameu do Ylê Axé Dakossidê, traz do seu quintal no Recôncavo da Bahia uma grande diversidade de ervas medicinais e de uso tradicional na religião afro-brasileira do candomblé, inclusive apresenta o Obí, fruto importante no culto ao orixá. Com toda sua espontaneidade e simpatia, Mãe Lameu nos conta os seus curiosos 14 partos, que fez sozinha e em casa:


...Fui buscar uma lata de água na beira do rio, porque naquela época eu morava perto do Rio Paraguassu, ai quando eu cheguei na beira do rio, que metir a perna pra pegar a água na lata, se eu não sou ligeira, a neguinha morria afogada, (risos)...”

Na religião do candomblé, Ossain é o orixá que cuida das ervas, e sem as folhas sagradas não existe nenhum fundamento religioso.








Suely Carvalho, coordenadora da Rede Nacional de Parteiras Tradicionais do Brasil, que se alia com a Rede Latino-americana de Parteiras, herdeira de gerações de parteiras, traz na sua experiência de mais de 5 mil partos, além da luta em defesa da mulher, e do respeito ao sagrado feminino.

 O contato com a espiritualidade compreende o corpo da mulher gestante em um estágio de iluminação, e a placenta que abriga o bebê é uma entidade, a segunda mãe da vida que está sendo gerada, além de ser um poderoso remédio que previne até mesmo hemorragias na parturiente. O sangue do cordão umbilical, nada mais é que célula-tronco, logo seu poder curativo é enorme.
‘‘...a mulher tem o controle da situação, nós parteiras estamos ali só pra ajudar, jamais podemos nos desconectar de um rito de passagem, tratar de uma maneira mecânica automática como se fosse uma momento qualquer!’’





















O aprendizado da conversa se concretiza a cada vivência, seja na cozinha através das receitas dos remédios ensinadas pelas mestras, seja na prática do plantio das ervas na horta coletiva, no viveiro, na identificação desses remédios na mata e nos quintais da comunidade. Tudo é socializado em apresentação para @s demais companheir@s. 





















Unindo o saber ancestral à apropriação tecnológica, a Rádio Livre ‘‘Aliança Educadora’’ vai ao ar, sendo uma importante ferramenta de empoderamento da comunicação na comunidade, e por ser o aparato de criação de programas radiofônicos que servirão como conteúdo pedagógico para a formação política no cotidiano dessa comunidade e em suas escolas. Além do rádio, o Projeto Três Pedrinhas conta com outros gêneros da comunicação para produção de conteúdos educativos, como o audiovisual, através da produção do vídeo documentário, da fotografia e do jornal impresso, através do Jornal Orí.




















Participaram desse encontro cerca de 200 pessoas de coletivos, comunidades tradicionais e instituições, como: Casa do Boneco de Itacaré, Assentamento Terra Vista, Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, GAIA, Instituto Cabruca, NEPA, UESB, UESC, EVA, CETEP-Maraú, AATR, Quilombo Rio dos Macacos, Assentamento Rio Aliança, CPPP Quilombo da Liberdade. Contamos com a presença de lideranças como: Cacique Nailton, Cacica Maria Muniz, professora Jomária, Dona Zefa da Guia, Mãe Maria Lameu, Suely Carvalho, Dona Socorro, Jorge Rasta, Sr. Zezinho, Joelson, Solange, Deysi, Lorena Aguiar. 





















O Projeto Três Pedrinhas conta com uma equipe técnica formada por: 

Jorge Rasta (coodenação executiva)
Nátali Mendes e Nana Queiroz (Assessoria de Comunicação)
Glauber Elias, Say Adinkra e Vitor Coimbra (assessoria em educomunicação)
Carla Antelante (assessoria pedagógica)
Sérgio Mello (técnico em instalação e produção de programas de rádio)
Fafá M. Araújo, Ismael Silva e Fernanda Pennachia (fotografia)
Casa da Alegria (cobertura audiovisual)
Don Perna (design gráfico)
MONITORES LOCAIS: Dania Jejê, Hugo Xoroquê, Beatriz Odara, Tovi Nascimento, Wilk Muniz e Moisés Muniz Pataxó.
PRODUÇÃO LOCAL: Breno Santiago.
EQUIPE DE APOIO:
Preta Bia
Gominho Neves
Preta Ashanti






01/08/2014

Rádio livre: Educomunicação como suporte de empoderamento das comunidades!

I Trecho do Projeto Três Pedrinhas- Assentamento Terra Vista


O Grupo de Trabalho (GT) de Educomunicação do Projeto Três Pedrinhas inicia sua primeira etapa de formação com os monitores das comunidades onde acontecem as atividades do projeto: Assentamento Terra Vista, Casa do Boneco de Itacaré e Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu.

Essa primeira etapa se iniciou com a instalação da Rádio Livre de baixa frequência no Assentamento Terra Vista pelos monitores que participam da formação tanto técnica, compreendendo as questões de instalação e operacionalização da rádio, quanto reflexões pedagógicas de funcionalidade da mesma como ferramenta de empoderamento da comunidade.

Através da metodologia de mapeamento, foram levantados os pontos-chave que a rádio deve se pautar e objetivos que deve buscar atingir: comunicação, diversidade, prestação de serviços, música, informação, integração e principalmente atender as necessidades levantadas pela própria comunidade. Nesse processo, teoria e prática não se dissociam.


A partir dessa formação os monitores iniciam o processo de capacitação para que o funcionamento dessas rádios seja mantido com sustentabilidade, e também atue como aparato para criação de programas radiofônicos que servirão como material pedagógico para intervenção no processo de formação política no cotidiano dessas comunidades e em suas escolas.