17/11/2014

Sobre "Machismo", "Universidade" e "Sermos todxs Nátali"!



"Gênero não é binário. É uma hierarquia.
É global em seu alcance, é sádico em sua prática e
é assassino em sua realização. (...)” Lierre Keith

Nesse Novembro Negro, gritamos Aqualtune para pautar: as mulheres não serão tolerantes ao posto de objetos numa prateleira enfeitada, muito menos como loucas, quando pomos o dedo na cara de quem quer que seja para escancarar o machismo!

No Sul da Bahia, movimentos e diversas pessoas, especialmente mulheres, se posicionam em favor da denúncia da estudante de Comunicação Social da UESC Nátali Mendes, constrangida publicamente pelo professor da mesma instituição André Rosa, que usou de uma infeliz postura de elogio, um segurar de braço seguido da oferta de seu cartão para ter aquela estudante no rol de inúmeras mulheres que tem se pronunciado desde então vítimas de constrangimentos ainda maiores nas abordagens daquele professor. Já ouvi uma amiga me questionar: mas qual mal ele fez afinal? Não me canso de explicar: o uso abusivo do poder de professor para com uma aluna, dentro de uma instituição onde ele exerce autoridade sobre a estudante, ele usou de sua autoridade através do cartão, do direito que se outorgou de pegar em seu braço pra promover um elogio! Seu pedido de desculpas foi tão infeliz quanto o seu ato de assédio. Trouxe o turbante como o motivo do fato. Mas professor, logo o senhor que trilha tanto pela pauta das questões afirmativas? Folclorizou e fantasiou a coroa da mulher negra? É desentendimento ou o senhor está montando uma grife de turbantes?

Infeliz, mexeu com uma mulher negra empoderada, altiva, do asè e que tem voz. Mas essa mulher não está falando apenas por ela. São diversas as situações de mulheres que já passaram por constrangimentos com esse professor dentro e fora da universidade e que silenciadas, talvez até acreditassem que o problema era o seu corpo, ou simplesmente desacreditaram da sua capacidade de reagir.

Depois do episódio no auditório, Larissa Pereira, que presenciou todo ocorrido afirma: “Desde então tenho ouvido reiteradas denúncias individuais de atuais ou ex estudantes da UESC: :"Ele quis pegar na minha bunda", "Ele disse que queria me comer", "Ele pegou em mim e disse que eu era gostosa" "Minha mulher preferida é a que tem buceta". Para os olhos desavisados ou coniventes estas falas podem ser elogios. Para mim, mulher negra e feminista, essas falas são formas de naturalizar a histórica coerção machista sobre o meu corpo. As mulheres que denunciam são, em sua maioria, do círculo social do referido professor. Mulheres militantes da causa educacional e/ou racial. Mulheres que cansaram de ver um homem se arvorando do poder fálico para conseguir privilégios. Continuo enojada. Continuo engajada. Vamos à luta, homens e mulheres comprometidos com uma sociedade justa.



A denúncia tem sido usada política e sensatamente pra pautar a universidade, que com certeza traz outros inúmeros casos similares (não precisa de pesquisa científica para provar tal afirmação, do meu lugar de fala, basta ser mulher) e isso no mínimo vai qualificar o debate no importante ambiente cultural que é a universidade.

Assédio por parte de professores homens na universidade é assunto recorrente que corre à boca pequena. Já vi mulheres sendo desqualificadas em bancas de TCC, reprovadas em disciplinas por conta de não ter cedido à "cantadas". Espero que a Universidade (Reitoria, professores, estudantes, funcionários), a UESC nesse caso, se posicione, ou vamos continuar colocando curativos nos ferimentos umas das outras, enquanto cultivamos em silêncio a dor de carregar corpos violados.” Hundira Cunha

Claro que isso também tem causado diversas reações conservadoras e machistas que invertem a lógica da situação e trazem a estudante Nátali para o centro do problema. Ela seria então a desequilibrada, a exagerada, irresponsável, que quer se aparecer, a quadrada que não entende uma cantada ou a insensível que quer acabar com a carreira do “coitado” do professor. É esse o jogo perverso que a dominação masculina promove e reproduz cotidianamente. Aí boa parte dessa sociedade se coloca contra as Nátalis, Marias, Danielas, Verônicas, Brisas, Larissas. Ou não é evidente que esse não é um caso isolado? Por que parece que essa parte da sociedade só daria razão se fosse o crime de estupro, mas se fosse um estupro em quem tivesse bem vestida, não provocasse a libido alheia e de preferencia, fosse religiosa... Confere, produção?

A essa sociedade, que muitos respeitam enquanto um nicho ideológico reacionário e conservador, nos levantaremos todos os dias, sob o raio e o vermelho de Iansã pra dizer: Basta! O machismo não passará!

A feminista negra Audre Lorde nos alerta que “temos sido educadas numa sociedade doente e anormal, e nós devemos estar num processo de retomar a nossa vida, mas não nos termos dessa sociedade. (...) O sujeito e o assunto da revolução somos nós mesmas, é a nossa vida". Dessa forma, eu queria dizer ao professor André Rosa e toda a parte da sociedade que o apoia, especialmente aos homens que exercem seu poder fálico para impor sua dominação física, simbólica, emocional e até mesmo profissional, que nós, mulheres negras, estamos praticando a irmandade como principio básico do feminismo. Seremos combativas igualmente contra o racismo e contra o machismo! Nenhuma passo atrás, Nenhum silêncio reinará!

Quem eu sou?
(escolha um ou mais nomes abaixo)

Eu assino como Maria, Nátali, Ronara, Nana, Dania, Say Adinkra, Hundira, Larissa, Cláudia, Quenia, Fernanda, Daniela Galdino, Preta Ashanti, Brisa, Karen, Joana, Carla, Grasieli, Michele, Jorge Rasta, Hugo Xoroquê, Negus Jorge, Gominho Neves, Tiago Dendê, Yure Mendes...

Sul da Bahia
Noite de 15 de novembro, sob chuva, raio e trovão
Eparre Oyá!



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