24/02/2013

Agenda de Planejamento 2013 da Jornada de Agroecologia - Território Litoral Sul

Encontro de gerações e segmentos sociais: vida agroecológica!
Entre os dias 21 e 23 de fevereiro de 2013, no Assentamento Terra Vista, município de Arataca, Sul da Bahia, A Jornada de Agroecologia seguiu seus primeiros passos no ano de 2013, cumprindo a proposição de trabalho em rede.
A Jornada, inciada em novembro 2012, com um grande evento, se propôs a ser uma caminhada permanente com o desafio de articular diversos movimentos do campo e da cidade para em rede, por em prática a agroecologia como um princípio de existência e sustentabilidade.
Assentamento Terra Vista, Aldeia Caramuru Paraguaçú, Aldeia Tupinambá de Olivença, Aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, Casa do Boneco de Itacaré, Instituto Eco Bahia e as ilustres presenças de Mestre Lumumba (SP) e Mestre Lua Santana (Chapada Diamantina), crianças, tambores, debates, chuva, lua, rio, fogueira, cantigas, rodas de conversa, deram o “tom” do evento da Rede no desafio de construir uma Agenda de Planejamento da Jornada, assim como iniciar as definições básicas da atuação da rede.
O evento foi iniciado com um grande debate de análise de conjuntura. Mestre Lumumba traçou uma importante linha histórica para defender que tão importante quanto sabermos de onde viemos, é saber conhecer contra quem estamos lutando. Nesse sentido, a fala do mestre percorreu as Cruzadas, as estratégias de extermínio do povo indígena, a educação que fragmentou o conhecimento e a relação dos mais velhos com os mais novos e uma dura crítica ao Estado Brasileiro:
“Se você é europeu ou da classe dominante, precisa de 5 anos para fazer uso capião da terra. Nós estamos há 5 mil anos (os índios) e não temos direito, o quilombola está há 300 anos e não tem direito... O Estado Brasileiro não tem nenhuma intenção de cumprir trato com a gente e precisamos entender a máxima da escravidão: 'quem come na minha mão, não me olha nos olhos'...”
Em se tratando da agroecologia, afirma que africanos e indígenas têm a mesma concepção do universo e adverte que a agroecologia pode até ser um nome novo para muita gente, ter livros de intelectuais sobre o tema, mas nada mais se trata de um retorno. “Já vivíamos em harmonia com a natureza, agroecologia é o conhecimento da tradição oral de nossos mais velhos, o nosso maior desafio é reconectar as gerações”
A liderança indígena Célia, professora e moradora da aldeia Tupinambá na Serra do Padeiro, tratou da visão da mulher indígena e negra em relação à luta pela posse de terras e na vida cotidiana de sabedoria e luta do povo indígena. Já o companheiro Joelson do MST, ressaltou a importância de 3 frentes organizativas: de mulheres, de jovens e da produção:
“Essa é uma sociedade velha, chegando ao fim. Temos um papel fundamental em reencantar o mundo. Nossa dificuldade em se unir foi plantada historicamente. Nós não temos muito tempo... Nós precisamos nos encontrar...”
Em sua intervenção, o Cacique Nailton relatou as vivências na sua aldeia, ressaltando o quanto é importante o cuidado espiritual, que está ligada a força dos orixás, caboclos ou encantados. Fez um paralelo entre formação e educação, enfatizando o quanto é importante se distanciar um pouco mais das novas tecnologias e valorizar as técnicas artesanais transmitindo aos mais jovens, principalmente no que diz respeito ao cuidado desses povos com a saúde, sendo que a natureza dispõe de todos os produtos necessários para promover curas, a chamada farmácia viva.
A discussão de Rede, conduzida pelo Instituto Eco Bahia, trouxe uma reflexão sobre o quanto a sociedade do consumo dispõe de uma tecnologia para confortos desnecessários com repercussão no impacto ecológico e desrespeito aos ancestrais. Segundo o companheiro Calango:
‘’A natureza nunca diminui a vida, ela só aumenta a quantidade e a qualidade de vida daquele local. Se a natureza é biodiversa, ela traz variedades de harmonia para o ser humano. A gente não precisa aprender nada, tudo o que a gente precisa saber da natureza ela mesma ensina.’’
A Rede, que a Jornada de Agroecologia deu início, tem uma atuação inicialmente focada no território Litoral Sul e nesse evento já começou a articular a Associação de Agroecologia dos Povos da Cabruca.
O trabalho da rede segue para a Aldeia Caramurú Pagaraguaçú em Pau Brasil nos dias 23 e 24 de março e estará trabalhando para uma ação permanente de intercâmbio, trocas de práticas e saberes identitários, mobilização de jovens e mulheres, produção de alimentos saudáveis, comercialização e formações diversas.
Say Adinkra, articulação da Rede de Agroecologia dos Povos da Cabruca
Texto feito com a colaboração da relatoria de Nátali Mendes e Ana Opará



10/02/2013

Ogum's Toques - Projeto baiano afro literário apresenta seu primeiro vídeo slide


A Ogum's Toques orgulhosamente apresenta seu primeiro vídeo-slide e o faz, apresentando a canção de autoria dos compositores Moa Do Katende e Guellwaar Adún, Levante de Sabres Africanos, campeã em 2002, no XXVIII Festival de Música Negra do Ilê Aiyê, cujo tema foi "Malês – A Revolução". Deliciem-se. Compartilhem e nos digam o que acharam. A música foi gravada pelo Ilê Aiyê e o cantor Adelson Soares, da antiga Ala de Encanto do Ilê, emprestou sua voz, coração e poder de disseminação musical nessa gravação raríssima.


Para ter acesso ao vídeo e a diversos cartazes com conteúdos políticos e poéticos, além da importante fotografia que se veicula, visite a fanpage: http://www.facebook.com/OgumsToques


Levante de Sabres Africanos

Levante de sabres… a noite caiu,
(a noite da glória talvez)
na hora da verdade de grandes sábios malês
com fúria e sonhos na tez.

1835 voltas do mundo malê,
um sonho tão belo foi sub-traído.
Mas ressoa no couro do majestoso ilê
por toda cidade vitorioso.

bis
Cante! aê, aê
Vibre! aê, eá
Ninguém cala a boca de babba almami (Carcará)

O poder era o fim e a rainha esquecida luiza mahin
temperou a revolta no tempo da memória;
em nome de allah ser o dono da terra
para calafatear nosso caminho.

Só quem tem patuá, não tem medo da guerra:
escorrega, levanta e nunca está sozinho.
Alufás: Dassalú, Dandará, Salin,
Licutan, Nicobé, Ahuna…
Bis

Compositores Moa Do Katende & Guellwaar Adún

Canta: Adelson Soares Soares Cantor da extinta Ala de Encanto do Ilê Aiyê
— em Salvador / Bahia .
O texto dessa postagem é uma contribuição da Fanpage Ogum's Toques Negros

02/02/2013

Odoiá!

                    

Iemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar
Iemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar

Quem ouve desde menino

Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar

O pescador que conhece

as historias do lugar
morre de medo e vontade
de encontrar
Caminhos do Mar – Dorival Caymmi

Itacaré celebra a Rainha do Mar!


A Festa de Iemanjá em Itacaré, organizada pelo Povo do Axé, Colônia de Pescadores e comunidade local em mais um ano movimentou a cidade com a energia do Orixá. A rainha do Mar, tão saudada no litoral, ganhou seus presentes em cortejos, além de muito batuque, samba de roda, dança de orixás e integração da comunidade local. A Casa do Boneco se fez presente não deixando de saudar a rainha do mar, os pescadores, as mulheres e mães. Fez ainda um apelo à comunidade contra a baixaria das músicas que ridicularizam as mulheres, contra todo tipo de conteúdo sexista e pornográfico prejudicial da infância e juventude. Conclamou aos orixás proteção da cultura negra e do axé, a cultura do respeito, da diversidade, da beleza e da preservação das pessoas e da natureza!

Odoyá para Iemanjá!




Ô iemanjá
Rainha das ondas sereia do mar
Mãe-d'água seu canto é bonito
Faz até o pescador sonhar
Quem ouvir a mãe d'água cantar
Vai com ela pro fundo do mar
Rainha das ondas sereia do mar

Brilhou, brilhou, brilhou no mar
O canto da nossa mãe iemanjá
Brilhou, brilhou no mar
E agora vai brilhar neste congá
Como brilhou






Ori



O que será que ela traz na cabeça?
Um balde de roupas?
Um turbante elegante?
Um cesto ou um balaio?

Ela traz na cabeça unção!

É uma ternura, uma meiguice
É um turbante elegante
Um balaio, um cesto

Ela traz na cabeça unção!

A força, o ori, um torço
Um poema de libertação
Ela vem mais do que faceira
Sorrateira, gingadeira
Ela vem por inteiro
Traz na cabeça unção.

Elizandra Souza # Águas da cabaça #2012
Foto: Janaína Teodoro.

Indicação de Leitura: Fela, Essa vida Puta!


Conheçam, escutem e leiam sobre Fela Kuti!

"A magia do apelo político de Fela Kuti originava-se precisamente da sua postura inovadora, autocrítica e destemida em relação à vida. Era a postura de alguém que vivia no limite; alguém cujo sonho foi construído sobre o otimismo irrepreensível que irrompe das classes menos desfavorecidas como sua única resposta à marginalização total. Ele acreditava na redenção por iniciativa própria, no ser humano auto didata, no reencontro do eu, na formação de uma nova psique pan africanista. Sua mensagem de que a solidariedade é a chave para a sobrevivência de nossa espécie não pode ser minimizada ou ignorada

Carlos Moore - Fela, essa vida puta!
uma leitura indispensável!
http://www.youtube.com/watch?v=27AMXHKmEeU

Mestre Lua visita a Casa do Boneco deixando seu axé de capoeira angola!




Fórum de Cultura da Bahia - um importante espaço para fortalecer a cultura na Bahia!




A Casa do Boneco de Itacaré integrou o Fórum de Cultura da Bahia, por reconhecer o quão frágil é a dimensão cultural no estado da Bahia, especialmente no interior. Na maioria das cidades baianas, ainda não se vê implantados os Sistemas Municipais de Cultura, o que também tem relação que a maioria dos órgãos de cultura dos municípios se resumem à diretorias dentro de secretarias de educação, turismo ou juventude e esporte.
Nesse sentido, a cultura no interior da Bahia não tem sido tratada com seu devido respeito e importância. Justamente por ser um dos setores mais dinâmicos e mobilizadores de uma sociedade, também significa “perigo” para os grupos políticos que governam à base do viés da corrupção e da oligarquia. A Casa do Boneco passou a compor o Fórum por desejar contribuir com o fortalecimento da cultura na Bahia, especialmente para colaborar com a implantação do Sistema Municipal de Cultura em Itacaré e com o Conselho territorial de Cultura no Litoral Sul.

O FÓRUM DE CULTURA DA BAHIA foi articulado durante a realização da IV Conferência Estadual de Cultura em 2011 , trata-se de um espaço de discussão e de articulação permanente, composto de pessoas físicas e jurídicas envolvidas com a questão cultural, não fazendo qualquer discriminação de origem étnica, de gênero, de religião e de linguagem artística. O Fórum é apartidário e aberto à cooperação com órgãos governamentais, com abrangência nos 417 municípios do Estado da Bahia.
É também um instrumento de controle social da Sociedade civil para proposição, monitoramento e avaliação das estratégias de gestão da políticas culturais do Estado da Bahia. É de objetivo do Fórum acompanhar a execução de ações, projetos e programas que são executados por órgão governamentais (esferas municipal, estadual e federal) e pela iniciativa privada. O Fórum se direciona para apoiar os trabalhos e as ações dos Conselhos Municipais de Cultura e do Conselho Estadual de Cultura, potencializando as formas e meios de produção e acesso à cultura, o marketing e divulgação cultural, além de apoiar as ações do Fundo Estadual de Cultura, e apoiando os editais e chamamentos públicos da área cultural.
O Fórum é uma forma democrática de reunir pessoas, entidades, artistas, produtoras/es, professoras/es, estudantes, interessadas/os na cultura em geral e debater todas as questões, dentre elas e a mais importante de todas, a Política Estadual de Cultura. Assim como promove capacitações, workshops e oficinas para qualificação social e profissional e para capilarização das políticas culturais nos 27 territórios de identidade do Estado da Bahia.

Carta da I Jornada de Agroecologia da Bahia



Arataca, 01 de dezembro



Nós, os mais de quinhentos participantes da I Jornada de Agroecologia da Bahia, tupinambás, quilombolas, pataxó hã-hã-hãe, pataxó, assentados e assentadas, acampados e acampadas. Homens, mulheres, jovens e crianças, reunidos entre os dias 26 de novembro e 01 de dezembro de 2012, no assentamento do MST, Terra Vista, no município de Arataca, afirmamos o nosso compromisso com o modo de vida agroecológico.

Ao longo dos seis dias de jornada nos debruçamos sobre práticas agrícolas, educação, movimentos sociais, cultura, fortalecimento de Identidade e de luta popular, contextualizando-os com a agroecologia. Compreendendo que a agroecologia é mais que um modelo de técnicas agrícolas, pautamos o nosso evento nas mais diversas linguagens, não deixando de lado a necessidade de envolver as crianças e adolescentes na construção do mundo que queremos.

Lamentamos o modelo antidemocrático, latifundiário, capitalista, oligárquico que ainda prevalece na Bahia e no Brasil, assim como a ausência de políticas públicas eficientes que contemplem a dignidade dos povos camponeses. Elencamos como problemáticas que dificultam a concretização da agroecologia: a precariedade da educação no campo e o fechamento de escolas no campo, o êxodo forçado da juventude camponesa, ausência de formação efetiva e contextualizada para os professores, a falta equidade de gênero, submissão do Estado ao grande capital, uso de agrotóxicos, inoperância de políticas públicas que permitam o escoamento da produção agroecológica, modelo de segurança pública pautado em uma tradição escravocrata de extermínio e opressão dos nossos povos, dentre outros.

Indignamo-nos com a incompetência e seletividade dos órgãos do governo estadual e federal em executar políticas públicas que garantam a titulação e permanência dos povos do campo e da floresta em seus territórios.

Afirmamos então, nossa capacidade de resistência, apresentando com nossas vidas e nossos esforços nos aprendizados cotidianos, outra forma de desenvolvimento baseado no modelo agroecológico e de uma educação libertadora, construtora de outro modelo de pensamento, produzindo, trocando e comercializando alimentos de qualidade, sem agrotóxico, fortalecendo a organização, o associativismo, respeitando as diferenças étnicas, de gênero e geração, valorizando a cultura e a arte do nosso povo.

Comprometemo-nos em expandir a articulação e manter permanentemente mobilizada a Rede de Agroecologia organizada nesta jornada com o objetivo levar aos diversos territórios da Bahia a matriz agroecológica de produção e transformando em tradição a realização da Jornada de Agroecologia na Bahia como ponto de encontro, troca, ação e mobilização permanente dos povos.

“Uma caminhada de passos largos e sem direção, é tempo perdido. Uma caminhada de passos curtos com objetivos, demora, mas um dia se chega lá.”


Jornada de Agroecologia da Bahia - um resgate da utopia e da união dos povos.


"Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade." Cora Coralina

Na Jornada de Agroecologia, Zumbi encontrou o MST

O Território Litoral Sul sediou entre o dia 26 de novembro à 1º de dezembro de 2012 , a I Jornada de Agroecologia da Bahia, no Assentamento Terra Vista, na cidade de Arataca, Bahia. O evento teve como tema central “Agroecologia: uma proposta de soberania do território baiano”, reuniu diferentes povos de comunidades tradicionais da Bahia para a troca de saberes e de conhecimentos sobre Agroecologia: indígenas, quilombolas, assentados, agricultores, ativistas diversos, estudantes.

O evento teve como objetivo proporcionar um espaço para a reflexão sobre a agroecologia e o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais do território baiano. Para isto, uma programação especial foi cuidadosamente executada para troca de saberes entre diversos segmentos de saberes, aprendizados práticos, construção de uma avaliação e definição de encaminhamentos sobre a Prática Agroecológica no Estado. 

Mística de Abertura da Jornada


Seria impossível conseguir expressar o que vivemos no Assentamento Terra Vista nesta I Jornada de Agroecologia da Bahia. As dificuldades anteriores pareceram necessárias para a construção daquela atmosfera formada pela nossa gente, pela energia e trabalho de tod@s que lá estavam e que colaboraram das suas bases de atuação para que aquela semana especial acontecesse.


Tivemos a oportunidade de vivenciar saberes indígenas, quilombolas, campesinos, sagrados, femininos, da natureza, do coletivo, das trocas, das lutas, de nossa gente brasileira. Diante de nossas diferenças, encontramos respostas para nossas semelhantes dificuldades e conseguimos reconhecer que juntos temos soluções viáveis e que, caso não tenhamos apoio governamental como gostaríamos, assim mesmo temos a nossa força para fazer acontecer. Todavia, foi importante perceber que temos alguns d@s noss@s também atuando no Estado (mesmo que poucos) e alguns desses com suas colaborações nos fazem crer que ainda podemos confiar e dar as mãos para construir o mundo que desejamos. Assim mesmo, temos que reaprender a fazer sem apoio, sem burocratizar tanto e acredito que vivenciamos isso da melhor forma possível.






O espaço da Jornada nos fez perceber o quanto é importante estarmos juntos e colaborativos na luta de melhoria de nossas comunidades. O Universo Criador com Toda sua amorosidade nos proporcionou um espaço de convivência intenso, fluídico e que nos mostra que existe uma transformação maior acontecendo e que somos tod@s gotas importantes no processo, mas que sozinh@s, somos somente mais um tentando, porém juntos, somos muitos fazendo acontecer.


Casa do Boneco realizou importante contribuição na Jornada, além das atividades culturais, um importante debate sobre educação popular , racismo foi travado, além de demarcar a perspectiva cultural na concepção agroecológica



Como consequência do evento, nasce uma Rede de Agroecologia que fará da Jornada uma disposição permanente de luta, encontros, trocas, compartilhamento de práticas e fortalecimento conjunto.

Say Adinkra e Mayne Santos